Era uma vez no sudoeste (Parte 2)

Com direção de Sergio Leone e roteiro de Arnoldo Monteiro Bach, Era uma vez no sudoeste começa em 1922, com a família Pinto de Camargo dividida em duas: os Pinto Brabo eram do mal. Os Pinto de Camargo eram do bem. O mais famoso facínora dos Pinto Brabo chamava-se Pacífico Pinto, também conhecido como “fabricante de viúvas”.

Recapitulando a primeira cena de Sergio Leone: contratados para uma empreitada na floresta, Juvenal e seus camaradas foram degolados pelos capangas de Pacífico Pinto: “Enfiaram-lhes os dedos nas narinas, puxando-lhes a cabeça para trás, degolando-os feito bichos e jogando-os na cova”.

Assim prosperava o facínora. Em outro episódio, os revolucionários da Coluna Prestes, antes de bater em retirada para Foz do Iguaçu, botaram Pinto Brabo para correr, queimaram sua casa e propriedades. Em vingança, Pacífico mandou matar todos os desafetos, jogando os corpos nas profundezas do Rio Pato Branco para que ninguém mais tivesse notícias deles!

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Novamente assenhoreado de Pato Branco, vizinhar com Pacífico Pinto ninguém queria. Como não conseguia mais trabalhadores para derrubar o mato das roças, Pacífico Pinto começou a trazer gente de Clevelândia. Quando os contratados terminavam a empreitada, geralmente de muitos alqueires, Pacífico ordenava que fosse acertar as contas em seu armazém, em Bom Retiro (Pato Branco). E para se mostrar um patrão generoso e cumpridor da palavra, não só começou a pagar muito bem os peões como também, com o serviço bem feito, fazia pose quando distribuía gratificações perante muitos caboclos agradecidos: “Deus lhe pague, seo Pacífico! Quando precisar é só falar!”.

Com o dinheiro no bolso, os trabalhadores saíam faceiros. Mas, no meio do caminho, eram tocaiados pelos capangas de Pacífico Pinto. E sem dar-lhes oportunidade de reação, os capangas os matavam. O sumiço das vítimas era sempre com a mesma técnica: amarravam os corpos em pesadas pedras e os jogavam em poços do Rio Pato Branco. O dinheiro recuperado, devolviam para o cofre do mandante.

– Seo Pacífico, meu marido veio fazer o acerto e não voltou pra casa!

O “fabricante de viúvas” disfarçava acendendo o palheiro:

– Eu fiz o acerto e até dei uma boa gratificação. Não foi assim, pessoal? Ele me disse que a família dele é do Rio Grande do Sul. Vai ver que com tanto dinheiro ele voltou para lá e abandonou você.

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Os crimes de Pacífico Pinto se sucederam, as denúncias contra o “fabricante de viúvas” também. Até que, em 1928, depois de ter sido interrogado pela Justiça, Pacífico Pinto continuou em liberdade, e o dia do julgamento foi marcado.

Era uma vez no sudoeste termina ao estilo de Sergio Leone: a notícia do julgamento correu pela região. O povo se mobilizou, parentes, amigos e conhecidos das vítimas se dirigiram para a Intendência, local do julgamento, em Pato Branco (Bom Retiro). Ao sair de casa, Pacífico foi aconselhado pelos capangas:

– Não vá, porque lá vão te matar! Só se fala do teu julgamento na vila.

– Não se preocupem! Eu tenho dinheiro e compro todo aquele pessoal. Vou voltar absolvido. Vêm dois advogados de Curitiba para me defender! Não sou homem de ter medo. Se não resolverem essa situação por bem, a gente resolve na bala!

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Fora do tribunal, os que vieram de Clevelândia começaram a se exaltar, e alguém gritou:

– Morte ao bandido!

A reação foi imediata:

– Morte ao “fabricante de viúvas”!

E, armados, invadiram o prédio. No centro da sala estava sentado o réu. Revoltados, apontaram as armas na direção do facínora e começou o tiroteio. Pacífico Pinto ficou crivado de balas. Irreconhecível, jazia o corpo do “fabricante de viúvas”. Era uma vez no sudoeste, tombou o último dos Pinto Brabo.

The End. Entra a sinfonia de Waltel Branco (ou Ennio Morricone), direção de Sergio Leone, crédito para Arnoldo Monteiro Bach.