Entrevista com o poste

Onipresentes, só os postes conhecem as almas das ruas e sabem o que se murmura nas esquinas. Do alto, eles observam quem entra e quem sai, quem vai e quem volta, quem sobe e quem cai, quem conspira e quem trai. Unidos por tantos fios, tudo ouvem, tudo veem, tudo sabem. Homens e postes, hoje estamos verticais, amanhã horizontais; quando todos os condutores se estenderão abaixo da superfície.

Assim ubíquo, até um poste sabe que nas imediações do Estádio Couto Pereira o sonho acabou e, tirando a pior das hipóteses, agora só tem pão com banha. Na sexta-feira passada conversamos com um dos postes numa mesa do Bar do Dante, o concorrido xará do Alto da Glória, onde o ereto e impávido colosso da Copel nos concedeu uma iluminada entrevista, enquanto sustentava energia elétrica para a Igreja do Perpétuo Socorro.

Pergunta: O senhor tem visto passar o Vilson Ribeiro de Andrade?

Poste: Como de costume, antes e depois das missas do padre Parron, tenho tentado iluminar os passos do presidente do Coritiba. No entanto, infelizmente, sou obrigado a concordar com o que escreveu o jornalista Nego Pessoa: “Giovani Gionédis foi excelente presidente, enquanto cuidou das finanças do Coritiba e deixou o futebol aos profissionais. Quando achou que já entendia tudo de futebol, estrepou-se! Não quero azarar, mas a história parece se repetir agora, com o Vilson.”

Pergunta: É verdade que até um poste se elege vereador na chapa do Ratinho Jr?

Poste: É o velho preconceito contra a nossa classe, os verdadeiros pilares do progresso da nação. Embora todos achem que um poste nada ouve, nada fala, nada vê, fiquem sabendo que temos opiniões próprias. Quanto ao Ratinho Júnior, por exemplo, qualquer poste sabe mas não diz: “Chega de intermediários, Ratinho pai para prefeito!”.

Pergunta: Os postes sabem o que acontece com Gustavo Fruet?

Poste: Na calada da noite, um publicitário nos disse que o problema do Gustavo é que os marqueteiros do PT estão trocando “vina” por “salsicha” e calçada com passeio. Em Curitiba, calçada é calçada. Passeio é coisa de gaúcho!

Pergunta: O Luciano Ducci vai para o segundo turno?

Poste: Não posso afirmar, embora todos os postes da minha rua concordem que, se dependesse das madames do Batel, o fonoaudiólogo do prefeito já estaria eleito.

Pergunta: Rafael Greca tem alguma chance?

Poste: Para se eleger, Rafael Greca precisa empunhar a bandeira de luta contra a Sanepar, com a sua célebre frase de quando era prefeito: “Rio não caga!”.

Pergunta: Se depender de um poste, quem será o próximo prefeito de Curitiba? 

 Poste – Eu levo a luz; não levo à luz. Por enquanto, todos os gatos são pardos.