“Não vote nulo, vote Nulowski.” Com este slogan, o cientista político Tadeusz Nulowski foi candidato a vereador nos anos da ditadura, para comprovar a sua tese de que o voto nulo é um legítimo instrumento de protesto. Abertas as urnas, Nulowskinão recebeu um voto válido sequer, mas sentiu-se gratificado: “Meus eleitores captaram a mensagem e sufragaram nulo!” – afirma o cientista política ao analisar os desdobramentos da crise que afeta a reeleição dos vereadores de Curitiba . A tese de Tadeuszvem de pai para filho, muito antes do primeiro Nulowski se estabelecer no Brasil.Boleslaw Nulowski, o patriarca, fazia parte do grupo de colonos da Europa Central que partiu do porto deBremen, na Confederação Alemã, com escalas em Antuérpia, na Bélgica, e noRio de Janeiro, para serem assentados em Curitiba. Antes de embarcar, no entanto, os colonos estavam divididos: parte do grupo queria que o navio zarpasse para o porto de Nova York, outra parte insistia em rumar para o Brasil Meridional. Com os emigrantes divididos, o comandante do navio retirou-se ao camarote para lavar as mãos, deixando um recado a todos os passageiros: “Vocês é que decidem o destino!”. Após dois dias de discussões no porto de Bremen, sem que os viajantes chegassem a um destino comum, o comandante resolveu então organizar uma eleição a bordo: “Quem for a favor de rumar para o porto de Nova York, levanta a enxada. Quem for a favor de partir para o Rio de Janeiro levanta a foice!”. Boleslaw Nulowski levantou o guarda-chuva e fez discurso em favor do voto nulo. Foi uma votação apertada. Com a diferença de apenas um voto, os adeptos da América do Sul venceram. O comandante embicou o vapor para o Equador, e adeus Nova York.

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Pergunta: A Câmara de Vereadores de Curitiba passa por um quadro dos mais desagradáveis de sua história. O senhor concorda que, no atual quadro fedegoso, a eleição dos vereadores corre o risco do voto nulo suplantar os válidos? 

Resposta: Nunca se viu tamanho clamor público para desinfetar o Legislativo Municipal. Há algo no ar além dos odores dos rios Ivo e Belém. Este último arquivamento do pedido de afastamento definitivo do ex-presidente daquele sodalício foi o que faltava para o eleitor curitibano aderir às minhas teses. Abaixo a situação, ou não nos chamamos Nulowski, de pai para filho desde 1772, quando as sanguessugas da Rússia e da Alemanhapela primeira vez invadiram a Polônia.

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