Caso um dia inaugurem uma estátua em homenagem ao ciclista desconhecido, o jornalista e escritor Márcio Renato dos Santos será escolhido como modelo. Nos últimos anos, ninguém em Curitiba fez mais do que ele pela popularização da magrela.

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Na sua crônica da semana passada, o estimado jornalista teve a ousadia de escrever que em Curitiba os chatos não andam de quatro rodas, como é mais comum, andam sobre duas rodas: “O sujeito mais chato da cidade são vários. É uma legião. São os chamados cicloativistas. Eles são chatos por serem equivocados. Em primeiro lugar, pelo óbvio ululante. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informa que tem chuva a cada dois dias em Curitiba. Como o sujeito que pedala poderá se deslocar? Vai chegar encharcado e sujo aos compromissos?”.

Embora não fique claro que os ciclistas são uns chatos de galocha, de tanto pedalar na chuva, em resposta à provocação o advogado e ambientalista Aristides Athayde também publicou na Gazeta um artigo onde também concorda que Márcio Renato dos Santos faz por merecer uma estátua de ciclista benemérito: “Foi com enorme satisfação que li o texto intitulado `Chatos sobre duas rodas´. Como ciclista e defensor da mobilidade urbana, democrática e universal, fiquei extremamente satisfeito. De fato, nós, os ciclistas, somos uns chatos”.

Com perdão da chatice, é preciso lembrar que até os inventores da bicicleta já foram considerados uns chatos. A começar pelo chato do Leonardo da Vinci, que não contente em inventar até o guardanapo, também desenhou algo parecido com a geringonça que seria desenvolvida em 1817 pelo barão Karl Von Drais. Considerado o inventor da bicicleta, este alemão inventou um brinquedo construído em madeira, com um guidão que permitia fazer curvas e manter o equilíbrio. O sucesso foi tanto que no ano seguinte Von Drais apresentou e patenteou seu invento em Paris, mas mesmo assim ninguém levou o alemão a sério. Barão foi ridicularizado e a bicicleta o levou à falência: “É o chato das duas rodas!”, diziam, com certeza querendo que o alemão se dedicasse a inventar o mecanismo da bomba do chope.

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Os ensaios sobre a chatice chegaram em boa hora. Esse começo de outono estava um tanto chato. A repercussão foi tão grande que os arautos da lenda urbana desconfiam de um conluio entre o cronista e os ciclistas. E a polêmica vai longe, pois agora até os motoqueiros exigem igual tratamento por parte da imprensa: “Também somos chatos sobre duas rodas!” – reivindicam os motoboys.