A boa nova desse Carnaval é que os organizadores caíram em si (quando os burocratas caem em si, sai debaixo!) e pretendem devolver o desfile das Escolas de Samba à avenida Marechal Deodoro. De onde nunca devia ter saído, diga-se.

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E digo isso com a modesta experiência de quem já fundou a Banda Polaca, de quem já foi presidente da Comissão de Carnaval e, o que mais interessa ao que tenho a dizer, também já fiz a decoração da avenida nos bons tempos do Carnaval no centro da cidade.

Não sei quem teve a idéia de transferir o desfile para o Centro Cívico, mas presumo que os responsáveis são da mesma descendência daquelas múmias que no início do século passado proibiram serenatas nas ruas de Curitiba. Nos conta o consultor permanente do Patrimônio Natural do Paraná e memorialista, Henrique Paulo Schmidlin (hoje com 80 anos, o popular Vitamina escreve um diário desde a juventude), que até então era comum os apaixonados transportarem até pianos para as suas serenatas. Acordes de violas esquentavam as noites de inverno e foi a partir daquela lei do silêncio que a cidade passou a ser conhecida como “Curitiba, a fria”.

Naqueles tempos do Entrudo, as pessoas avessas à folia entravam numa cova rasa e se cobriam com palhas e folhas secas. Permaneciam enterradas vivas até quarta-feira de cinzas, para levar o diabo a pensar que estavam mortas e, assim, se esconder das tentações.

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O verdadeiro endereço do Rei Momo é na Avenida Marechal Deodoro. Mais precisamente na esquina com Marechal Floriano. Quando levaram Sua Majestade para o Centro Cívico, o despejaram de casa. Com todo respeito às boas intenções do ex-governador Bento Munhoz da Rocha Netto, mas o Centro Cívico é o grande cemitério de Curitiba. E a constatação está no ermo daquelas cercanias: durante o dia lá não reconhecemos vida inteligente e durante a noite não encontramos alma viva.

Quem planejou a transferência do Momo da Marechal Deodoro para o Centro Cívico estava de conluio com aqueles que querem desterrar o Momo. Decretar seu exílio numa pousada da Ilha do Mel, sem direito nem mesmo a que um cachorro vira-lata lhe acene com o rabo em sinal de boas vindas.

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Quando confundiram Carnaval com Semana da Pátria, a verdadeira intenção era fazer com que o Carnaval definhasse de fome e frio no descampado do Palácio Iguaçu, onde nem mesmo existem botecos de esquina para um trago de cachaça. E dia virá que o sucesso do bloco Garibaldis e Sacis, de tanto incomodar, será removido do Centro Histórico para o Aterro da Caximba.

O povo gosta de ser recebido com o que temos do bom e do melhor, de preferência na sala de visita. E a Marechal Deodoro é uma das salas de visita de Curitiba. O Centro Cívico é o quarto de despejo.