Confraria dos comes e bebes, a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Seccional Paraná), acaba de lançar um caprichado guia dos seus melhores filiados do Paraná. Com ênfase para Curitiba, naturalmente, o cicerone dos prazeres da mesa e do balcão parece ter caído do céu para as comemorações dos 319 anos de Curitiba. Com um mapa de endereços, o opúsculo de 145 páginas com formato de bolso nos revela endereços pouco conhecidos pelos seguidores do “óbvio ululante”, para usar a expressão de Nelson Rodrigues que equivale à mesmice de sempre. Por exemplo, o “Ora pois, bistrô”, um pequeno grande restaurante português na Manoel Ribas (em frente à igreja dos Capuchinhos) que veio para provar que nem só de bacalhau vive a gastronomia lusitana.  

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Sendo a Abrasel uma instituição arejada, sempre aberta às novas ideias, tomo a liberdade de propor para os 320 anos de Curitiba um inventário dos bares e restaurantes de Curitiba, da primeira cervejaria da Rua das Flores ao último botequim chique do Batel. Seria uma enciclopédia com 320 (um por ano) bares e restaurantes da história da cidade.

A Enciclopédia de mesa e balcão começaria no dia 8 de outubro de 1859, com este anúncio no jornal “Dezenove de Dezembro”: “Cerveja a 320 rs. a garrafa na casa de pasto, rua da Carioca (depois Riachuelo) nº 8, em Curitiba”. Em 1881, o presidente da Província João José Pedrosa fez constar em relatório que “as fábricas de cerveja medram a olhos vistos”. Tanto que, em 1908, o consumo de cerveja em Curitiba era calculado em dois milhões de litros mensais. O cronista Nestor Victor atribuía a esse grande consumo de cerveja – e consequente instalações de bares – o desparecimento dos velhos cafés. O curitibano sabia beber bem, atestam os jornais da época: “NOTÍCIA: na nova casa inglesa, na rua da Carioca, vende-se cerveja inglesa a 8$500 a dúzia”.   

Depois dessa casa inglesa da Carioca vieram outras centenas de bares e restaurantes que fizeram história: o Bar da dona Gradowski, na Avenida Luiz Xavier, onde hoje é a Boca Maldita, ao lado do bar do Eugênio Stier; o Bar do Olímpio, um português cuja especialidade era o pastel e não o bolinho de bacalhau, ora pois; o Bar Palmital, do Ernesto, na XV, servido por garçonetes (o que era um espanto); o Bar Polo Norte, no terminal do bonde da Colônia Argelina; o lendário Buraco do Tatu, na Marechal Deodoro, o introdutor da “carne de onça” na baixa gastronomia curitibana; o Pérola, do José Zanchi, na XV; o Caneco de Sangue, na Praça Tiradentes; o Bar Paraná, também na XV, ao lado da Gazeta do Povo; Bar Pomerânia, onde Harald Hasse tirava o melhor chope da história de Curitiba; só igualado ao chope do Bar do Ludovico Egg.

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Na letra C da Enciclopédia não pode faltar o Bar e Confeitaria Cometa, a grande invenção do especialista Ewaldo Mehl, que nos deixou de herança a confeitaria Iguaçu e o Buffet Ilha do Mehl. Para fechar a conta, alguém lembra de algum verbete para a letra Z?