Ontem entrevistamos na Ó-TV o jornalista e escritor Laurentino Gomes. Lá pelas tantas da conversa com Fernando Parracho e o professor Daniel Medeiros, quase perguntei se “embargo infringente” seria um palavrão ou uma expressão de censura, equivalente a embargar uma palavra chula.

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Na minha santa ignorância, sempre achei que os grandes vultos da história nunca falaram palavrão. E se sujaram a boca com palavras mais agressivas, apelaram para o enigmático jargão jurídico: sucumbência, preclusão, perempção e outras prosopopeias. 

No recém-lançado livro “1889”, Laurentino Gomes nos revela certas passagens da história que os livros da escola nunca contaram. Ou tiveram vergonha de contar. Como, por exemplo, os bastidores do dia 15 de novembro, quando ninguém apostava um mirreis que o moribundo marechal Deodoro da Fonseca, de tão doente, conseguisse levantar da cama. Muito menos calçar as botas para comandar a quartelada.

Para surpresa geral, na manhã de 15 de novembro “um Deodoro transfigurado surgiu diante dos oficiais e soldados tão logo assumiu o lugar na sela do baio número 6” – escreve Laurentino. Com voz firme e decidida, começou a disparar ordens e organizar as tropas. Em nada lembrava o ancião agonizante. Ao comando do marechal, seiscentos homens armados com espadas, fuzis e dezesseis canhões postaram-se em frente ao quartel onde estavam reunidas as tropas supostamente leais ao Império. Supostamente, porque sem que o governo soubesse, o general José de Almeida Barreto já estava comprometido com os revolucionários.

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Com essa carta na manga, marechal Deodoro falou grosso e mandou um recado para Almeida Barreto abrir as pernas. Digamos, facilitar as coisas. Passados quinze minutos, Deodoro notou que Almeida Barreto não cumprira a determinação: “Menino, vá dizer ao Barreto que faça o que eu já por duas vezes lhe ordenei, ou então que meta sua espada no c…, pois não preciso dele!”.

A frase de Deodoro, pelo seu óbvio conteúdo chulo, tem sido relatada de forma cautelosa pelos livros de história – aponta Laurentino. Alguns se referem a uma “frase impulsiva e vigorosa”, outros a uma “exclamação violenta” e há que considere o ultimato “um recado um tanto enérgico e sugestivo”.

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De uma forma ou de outra, a verdade é que o general Almeida Barreto botou a espada no seu devido lugar (na bainha) e abriu caminho para o decrépito marechal Deodoro mandar D. Pedro II para Pindamonhangaba. Isso para não usar palavras do mesmo calão que os tais embargos infringentes do Supremo Tribunal Federal!