Muitos já tentaram fazer um “Dicionário Curitibano”, nos moldes do “Dicionário da Ilha”, de Fernando Alexandre, uma obra-prima dos falares de Florianópolis, sempre imitados mas nunca igualados por características linguísticas singulares da colonização portuguesa (ou açoriana, como muitos preferem) no litoral de Santa Catarina.

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Dos falares curitibanos, que alguns pesquisadores de boteco (o que é o meu caso) já trataram de compilar, quase todos vêm das tantas gentes que constituíram esta babel étnica e migratória que constitui Curitiba e região metropolitana. E a grande maioria das palavras arroladas como sendo do “dicionário curitibano” são na verdade próprias da linguagem informal do Brasil Meridional. Ou seja, no Paraná ou em Santa Catarina, “broa” sempre será o mesmo pão de trigo ou de centeio e a “chimia” é feita para passar na “chineque”, o pão doce que também é muito apreciado em Porto União ou União da Vitória. Piá ou guri, todos os meninos do sul do Brasil soltaram pandorgas, raias, pipas ou papagaios e já beberam uma “chocomilk”, o leite achocolatado em garrafinhas.

De A a Z, aqui incluída a “vina” (“Wienerwurst”, ou salsicha de Viena) não são poucas as palavras que conhecemos desde sempre no linguajar sulista mas, por apropriação indébita, consideradas tipicamente curitibanas.

Curitiba tem suas próprias expressões. Embora não tão divertidas quanto os falares do Campos Gerais, tão bem compilados no livro “Jacu Rabudo”, de Hein Leonard Bowles, as expressões típicas de Curitiba, realmente autênticas, não são tantas a merecerem um volume tal e qual o destinado à linguagem coloquial de Ponta Grossa e região.

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Dos nossos falares e dizeres de legítimas raízes leite quentE, temos algumas expressões graciosas que surgiram com as transformações urbanas, e que daqui ganharam asas: “alimentadores”; “ligeirinho”; “busum”; “busunzinho”; canaleta ; “estação tubo; “expresso” (o que em Curitiba é um ônibus em outros lugares é um café); e segue o novo léxico curitibano formalizado pelos nossos urbanistas do Ippuc.

Curitiba é hoje uma cidade “balazequinha” (tem múltiplas faces e está em todas), mas ainda guarda sua velha linguagem. Xunxo ou falcatrua, o mais autêntico dos dizeres curitibanos vem da rua João Negrão, “embaixo da ponte preta”. Quando o curitibano quer se referir a algum ilícito feito às escuras, nas sombras, ele se refere a alguma coisa feita “embaixo da ponte preta”. Em Curitiba, a diferença entre a loteria federal e o jogo do bicho é que os corretores zoológicos sorteiam os números “embaixo da ponte preta”.

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Assim, se algum forasteiro perguntar onde fica a Assembleia Legislativa, responderá o curitibano com sua velha linguagem:

– Embaixo da ponte preta!