Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, está ressabiando com as consequências do álcool zero ao volante. “Exageraram na dose!”, reclama o antigo frequentador das churrascarias de beira de estrada, onde fazia parada obrigatória para o filé na chapa com algumas cervejas ao ponto. – “Agora, só mesmo um psicopata para voltar pra casa sob a escolta da Polícia Rodoviária”.  

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– Você é contra a Lei Seca? – pergunta um circunstante. 

– Sou favorável, em termos. Se botarem um bafômetro em cada borracharia, não sobra um borracho na beira do caminho! Mas de tão radical, cedo ou tarde algum deputado da base governista vai tirar o gesso da lei.

– Como assim?

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– Somos assistencialistas, não deixamos ninguém na rua da amargura. Para quem quer transar, fornecemos camisinha. Se já transou, doamos a pílula do dia seguinte. Se engravidar, patrocinamos aborto. Se já teve o filho, temos o Bolsa Família. Se está desempregado, temos Bolsa Desemprego. Se quer prestar vestibular, contamos com uma bolsa apropriada. Se não tem terra, apelamos para a Bolsa Invasão e ainda aposentamos os invasores. Ninguém segura o jeitinho brasileiro: ainda seremos capazes de lançar um vale-táxi para amparar aqueles carentes que não podem voltar para casa com um motorista. Vai funcionar assim: o camarada bebe um engradado de cerveja no boteco e chama um táxi. Apresenta uma carteirinha de carente, assina uma guia e o taxista será reembolsado no fim do mês pelo Ministério da Saúde.

– Mas isso vai reduzir o número de acidentes fatais no trânsito e baixar os índices de alcoolismo no Brasil, não é mesmo?

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– Isso eu não sei. O Brasil não é um país sério, dizia Charles de Gaulle. Muito menos sóbrio.

– De fato, não é um país sóbrio. Tanto não é sóbrio que essa frase não é do Charles de Gaulle, é de outro.Em 1949, muito antes do De Gaulle visitar o Brasil, o escritor francês Albert Camus conheceu o trânsito do Rio de Janeiro e comentou: “O motorista brasileiro ou é um alegre louco ou um frio sádico”. Quando voltou a Paris, o escritor teria dito isso ao general.

– É o que eu sempre falo: esse não é um país sóbrio!

– Jaguara, você é dos poucos a reclamar da Lei Seca. Conforme os registros, a nova Lei Seca ajudou a reduzir o número de mortes nas estradas federais no feriado de Páscoa, por exemplo. Isso não é uma bênção?

– Bênção, em termos! No meu caso, mais um profissional em vias de extinção. Já estou trabalhando tão pouco que vou acabar como o meu falecido pai.

– Ele também era animador de velórios?

– Não. O coitado era limpador de chaminés.