No palavrório dos advogados, “jus esperniandi” é o direito ao desespero, quando a emoção faz a vez da razão. Independente a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) acerca das ações que pedem a revogação do pagamento de pensões vitalícias aos ex-governadores,- e recorrendo ao “jus esperniandi” -, alguém precisa espernear em defesa das viúvas.

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Defender os privilegiados proventos vitalícios dos ex-governadores não é preciso. Cumpra-se o que a Justiça decidir e, de mais a mais, todos eles contam com alguma retaguarda empresarial ou profissional para sustentar o tédio na “ilha do ostracismo”. Dos ex-governadores do Paraná, Alvaro Dias perdeu o lugar na fila do caixa; Orlando Pessutti já foi pago e muito bem pago com seis meses de mordomias palacianas; Mário Pereira é um bem-sucedido executivo da área de energia; Paulo Pimentel está mais em forma que o Ronaldinho Fenômeno; Jaime Lerner passa mais tempo no aeroporto do que em casa; João Elísio Ferraz de Campos seguramente é o mais afortunado de todos; Jayme Canet não fica muito atrás do João Elísio; Emílio Gomes é auditor aposentado do Tribunal de Contas; João Mansur conta em Irati que esteve no Palácio Iguaçu entre os dias 4 de julho e 11 de agosto de 1973; e o senador Roberto Requião pode passar o resto da vida fazendo palestras sobre o óleo de mamona, também chamado óleo de rícino (arghh!).

Todos os acima citados podem deixar de receber R$ 24,8 mil por mês. Mas, e as viúvas Adelina Castaldi Novaes (que foi casada com José Hosken de Novaes), Arlete Richa (viúva de José Richa) e Rosi Costa Gomes da Silva (viúva de Mário Gomes da Silva) e Flora Camargo Munhoz da Rocha (viúva de Bento Munhoz da Rocha Netto)?

Em 1955, ao retornar do Rio de Janeiro com a bolsa cheia de verbas do Ministério da Saúde para a “Cidade dos Meninos””, a escritora Flora Munhoz da Rocha – hoje prestes a comemorar 100 anos de gloriosa vida – foi recebida no aeroporto com a notícia de que seria ela a nova feliz proprietária do Laboratório Raul Leite, uma grande empresa da época.

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– Eu, dona de laboratório? Quando foi isso? Ninguém me disse nada até agora.

– Ora, o Laboratório Raul Leite que o Dr. Bento comprou, em seu nome, por 60 milhões.

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Em suas memórias, a escritora deu fim a este episódio: “Entra pelos olhos de quem queira ver, que um homem que não é de negócios, que sempre viveu de ordenado, como o meu esposo e nosso ex-governador, não poderia jamais economizar 60 milhões. A não ser que houvéssemos tirado a sorte grande, ou assaltado um banco. E como não compramos bilhetes de loteria, é dolorosa a injustiça que pretendem insinuar.”

Alguém precisa espernear em defesa das viúvas. Especialmente se nenhuma delas for proprietária do Laboratório Raul Leite.