Ele voltou!

Julio Iglesias voltou novamente. Só não se sabe se el cantante voltou a rever o Gato Preto, reduto boêmio da Faixa de Gaza do entorno da Rua Cruz Machado. O que se sabe é que Iglesias se apresentou sábado no Teatro Positivo e depois foi jantar no restaurante Île de France, em paz e muito bem acompanhado.

Da última apresentação de Julio Iglesias em Curitiba já contei aqui, de como foi barrado de cantar no Gato Preto. Quem contou o inusitado foi um oficial da Polícia Militar, testemunha ocular da história que já virou lenda urbana. O PM ficou de me confirmar a ocorrência em detalhes. Uma história tão absurda que ele ainda continua com vergonha de contar.

Lenda ou não, o entrevero teria acontecido em 6 de março do ano passado, quando o cantante se apresentou no Clube Curitibano. Iglesias estava hospedado no Hotel Bourbon e, naquela noite de folga, sumiu. Depois de muita busca, os assessores chamaram a Polícia Militar, que recebeu a seguinte descrição do ilustre desaparecido: “Na última vez que foi visto no hotel estava todo vestido de preto, sapato, calça, camisa e paletó Armani”. Não muito tempo depois, a PM recebeu a ordem de enviar uma viatura urgente ao Gato Preto, na Ermelino de Leão. Uma ocorrência estava acontecendo no local, dizia o rádio do comandante.

Quando dois patrulheiros da PM chegaram ao Gato Preto, quem estava no meio da confusão, agarrado pela turma do “deixa-disso”? Ele, o cantante espanhol, todo vestido de preto, o próprio “gato de Armani preto”, o belo Julio Iglesias.

Como Iglesias foi parar no Gato Preto não se sabe com certeza. O que se sabe, contado por um dos policiais, é que Julio Iglesias teria chegado ao bar boêmio sozinho. Depois de passar os olhos na freguesia, foi direto ao músico que estava no teclado de uma “porrinhola” e pediu para cantar uma música: Begin the Beguine.

O azedo tecladista respondeu, sem levantar os olhos:

– Begin the Beguine? Eu só tocaria essa música para o Julio Iglesias! Te manda, cara!

– Pero… yo soy el proprio Julio Iglesias!

– Aqui no Gato Preto, se você é o Julio Iglesias, eu sou o Frank Sinatra!

O próprio Julio Iglesias insistiu, o tecladista destratou o desconhecido, o cantante revidou, o da “porrinhola” deu um chega pra lá no gajo, a celebridade perdida na noite pegou o microfone bruscamente da mão do músico enfurecido, chegaram os seguranças e começou o entrevero!

Julio Iglesias voltou ao hotel dentro da viatura da PM, com o Armani preto amarrotado e ainda repetindo o refrão:

– Carajos… me gustaria cantar Begin the Beguine, solamente!

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Nesta temporada jurássica no Teatro Positivo, o cantante não confirmou nem desmentiu a lenda do Gato Preto. Nem deve ter tomado conhecimento, com bastante certeza. A ocorrência tem muita verossimilhança. Referência musical da cidade, o jornalista Aramis Millarch registrou na coluna Tablóide e mesmo acompanhou inúmeras incursões noturnas das celebridades de passagem por Curitiba. São histórias que não acabam mais e do arco da velha, muitas impróprias para menores de 16 anos. Aliás, diga-se de passagem, mais de 500 entrevistas gravadas em fita por Aramis Millarch serão transferidas para CDs, graças a um projeto desenvolvido pelo filho Francisco Millarch. É um raro acervo, onde todas as celebridades que cruzaram com Aramis deixaram gravadas suas memórias e confissões, quase sempre instigadas pelos fluidos etílicos da noite.

Participei de várias dessas entrevistas. De modo especial, lembro de uma noite com o saxofonista Victor Assis Brasil. Depois de muita conversa e uísque na casa da Rose (Polaca) Rogoski, Assis Brasil botou o sax embaixo do braço e fez questão de fechar a madrugada na Faixa de Gaza da Rua Cruz Machado.

Só que, ao contrário da lenda de Julio Iglesias, Victor Assis Brasil parou a casa e, depois da “jazz session” com o tecladista da “porrinhola”  foi aplaudido de pé. Até o litro de Red Label pediu bis.