Com 34 graus na moleira, o curitibano muda até o sotaque. De leite quente, nesse verão carioca agora pronunciamos leitchferrrvendo . Conta o colunista Reinaldo Bessa, na Gazeta do Povo, que o ex-prefeito Jaime Lerner, ao ser entrevistado pela rádio BandNews de São Paulo, respondeu assim para a âncora Nely Pereira, por sinal curitibana da gema: “34 graus em Curitiba? Com esse calor todo estamos mudando até o sotaque!”.

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Jaime Lerner não falou nenhuma novidade. Há muito tempo está provado que o curitibano, quando transplantado para altas temperaturas, sofre alterações físicas, psíquicas e linguísticas.

Fisicamente se reconhece um curitibano tomando chope no bar Amarelinho, no Rio de Janeiro, pela cor da pele. De branquinho, em meia hora de Amarelinho ele se torna um vermelhinho. Psiquicamente, no Rio de janeiro 45 graus o curitibano é um ser lobotomizado. Ou seja, a fritura dos neurônios deixa o seu cérebro feito uma omelete, como se tivesse sofrido uma bárbara intervenção psicocirúrgica.

Sobre as alterações linguísticas, temos o caso de um curitibano que foi trabalhar no Rio de janeiro e, depois de apenas um verão na praia de Ipanema, voltou com a língua completamente desfigurada. Com a língua torta, digamos.

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Trata-se de um repórter fotográfico nascido em Santa Felicidade, de origem italiana, mas genericamente chamado de Polaco – assim como todos os que nascem com o cabelo de espiga de milho. Convidado para cobrir férias na sucursal da revista Veja no Rio de Janeiro, em apenas três meses – dezembro, janeiro e fevereiro – Polaco voltou para Curitiba com o mais legítimo sotaque de um gato de Ipanema.

Os amigos ficaram impressionados. Para comemorar o retorno, foram todos para a casa do “neocarioca” para um churrasco de boas-vindas. A festa foi longe e não faltou cerveja porque o dono da casa fez questão de comprar pessoalmente, com o velado objetivo de exibir o sotaque aos amigos do bairro:

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– Polaco, como foi de Rio de Janeiro? – saudou o italiano do armazém.

– Rapaxxxx… não podia serrrmelhorrr!

– O que vai levar agora?

– Cerrrveja! Quero uma grade de “garafas!”.

– Quando os amigos do boteco sentiram a pronúncia leitEquentE da “garafa” – com apenas um leve e eslavo erre – o diagnóstico foi unânime:

– São um dos efeitos do calor carioca!