Beber com moderação? Temos lá algumas dúvidas. Será que depois da segunda garrafa alguém recorda desta recomendação do Ministério da Saúde? Melhor seria se as autoridades sanitárias imprimissem nos rótulos de bebidas a frase de Millôr Fernandes, muito mais educativa: “Deve-se beber com moderação, independentemente da quantidade”.

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Mestre dos eflúvios alcoólicos e espirituais, certa feita uma senhora perguntou ao escritor Paulo Mendes Campos se ele não estaria bebendo demais: “Não, senhora. Nem de menos!” – respondeu o grande cronista.

Os alcoólatras conhecidíssimos, era o caso de Paulo Mendes Campos, sempre têm uma resposta brilhante na ponta do copo. Os abstêmios é que têm a resposta na ponta da língua. É o caso daquele boêmio inspirado que ouviu uma aula de anatomia da patroa enfurecida: “O fígado é a maior glândula do corpo humano, tem 220 funções diferentes e não dá em árvore!”. O aluno relapso ouviu a reprimenda da mestra e respondeu, na ponta da língua: “Querida, cuide mais do meu coração e menos do meu fígado!”.

Por enquanto, educação etílica não se ensina na escola, se aprende nos bares. Se nos bancos escolares fossem mostrados os efeitos do álcool, a prova de redação teria como tema a frase de Samuel Butler: “Se a ressaca precedesse o porre, o alcoolismo seria uma virtude”.

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“O vinho alegra o coração do homem” (Salmos, 105, 15). Não está na Bíblia, nem no gibi, uma lição exemplar de educação alcoólica. Reza o ensinamento que toda criatura de Deus tem dentro do próprio corpo um sistema que acomoda os humores etílicos.

No lar ou no bar, o homem carrega onze macaquinhos no estômago e uma mesa com dez cadeiras no cérebro. Na primeira dose, um dos macaquinhos sobe ao cérebro e senta numa das cadeiras.Na segunda dose, o segundo macaquinho sobe por uma escadinha e se acomoda na segunda cadeirinha: “Garçom, mais uma!”. E lá foi outro macaquinho ocupar a terceira cadeirinha da mesa.

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Cada dose sobe um macaquinho, na décima primeira dose o último dos macaquinhos chega ao cérebro e não encontra cadeira para sentar. Todas já estão ocupadas: uma mesa, onze macacos, dez cadeiras – pouca cadeira para muito macaco, e a confusão está formada. O macaquinho sem cadeira dá um chega pra lá num dos macaquinhos sentados, outro macaco sai em defesa do amigo com uma cadeirada e voam cadeiras na mesa da macacada.

Tudo tem sua dose certa, no lugar certo. Quando sair para beber com os amigos, faça uma revisão no estômago e, principalmente, no cérebro. Na mesa de bar, lembre-se: uma cadeira para cada macaco! Ou cada macaco no seu galho.