E agora, prefeito?

Como diziam os piás do tempo de bem antes, quem solta o foguete tem que buscar a varinha. Com a intenção de chamar atenção para a degradação do parque do coração de Curitiba, o alerta em defesa do Passeio Público subiu como um foguete aos olhos da cidade, provocando polêmicas e desinteligências, agregando simpatizantes, instigando ideias e reavivando a saudade nos antigos frequentadores. Depois de mais de um ano de foguetórios – com destaque para a “Vinada Cultural” e a “Regata de Pedalinhos” -, enfim o prefeito Gustavo Fruet cumpriu o prometido e abriu para discussão e aprovação o Plano Estratégico de Requalificação do Passeio Público, elaborado pelo Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba), agora aprovado em audiência pública na Câmara de Vereadores de Curitiba.

Apresentado pelo arquiteto Reginaldo Reinert, da velha e brilhante geração do Ippuc, diversas melhorias devem ser realizadas no local: duas ciclovias, sendo uma interna e outra externa e também uma pista de caminhada livre do trânsito de qualquer veículo; o espaço “Curitiba para Crianças”, com equipamentos lúdicos para ensinar a história e a geografia da cidade; a feira permanente dos orgânicos, com estrutura fixa aos feirantes; implantação de um museu ao longo da pista de caminhada, com exposições itinerantes; o palco flutuante junto ao restaurante deve ser recuperado, assim como o antigo coreto – hoje um sombrio aquário de peixes e répteis- vai ganhar em seu entorno um belo espaço para a música, com assentos ao céu aberto; canteiros de flores por todo o parque; e o espaçoso restaurante (antigo Pasquale) deve ser reformulado e diversificado, com destaque para os doces e pratos típicos do Paraná, além da tradicional feijoada dos sábados. Tudo isso e o que mais for possível, sem esquecer itens como iluminação, câmeras de segurança, placas de identificação nas árvores e nos demais equipamentos (muita gente ainda acha que as águas do Passeio, hoje de um poço artesiano, são provenientes do Rio “Nilo” ou do Rio Ivo, não do Rio Belém) e, principalmente, é preciso estender o horário de frequência até às 22 horas, ao menos no verão. 

E agora, prefeito?

Apesar de ainda conservador para o gosto de muitos, não temos em mãos um projeto fechado. Está aberto para novas ideias e correções, mas a maioria daqueles que foram buscar as varinhas do foguetório saiu satisfeita da Câmara Municipal de Curitiba. Conforme o ator e diretor de teatro Enéas Lour, que ao lado do iluminador Beto Bruel foi um dos primeiros a levantar a voz em defesa do Passeio, “o projeto pode melhorar muito mais. No seu detalhamento, muitos nós serão desfeitos e muitas arestas aparadas”.

Costuma dizer o ex-prefeito Jaime Lerner aos seus discípulos: “Agora é hora de chapear os cantos!”. Ou, para usar uma expressão mais própria para o velho Jardim Zoológico, “chegou a hora da onça beber água!”. É o momento de se perguntar: e agora, prefeito? Dentro de um cronograma de implantação, o projeto tem recursos financeiros para tirar as boas intenções do papel ou vamos ficar mais um ano soltando foguetes para chamar atenção do distinto público?