E agora?

Como num passe de mágica, até a tarde de ontem mais de dez mil pessoas já haviam marcado encontro para o Réveillon Fora de Época na Praça Espanha. A festa, que se pretende desautorizada, está tomando corpo pelo Facebook em torno da ideia (anarquista, graças a Deus) de que a praça é do povo assim como o céu é dos aviões de carreira, dos beija-flores e dos urubus.

Os convites para a noite deste sábado pedem trajes sem nenhum rigor: “Todo mundo de branco ou com a cor que melhor combinará com seu ano, estaremos lá de champanhe, espumantes, fogos, uvas e afins. Chame os amigos, o tio, o papagaio e quem mais você quiser e venha participar do melhor Réveillon Fora de Época que Curitiba já viu! E depois a festa continua!”

E agora? No ano passado, a mesma folia quase provocou uma guerra civil nas adjacências da Praça Espanha entre os moradores de pantufa e pijama versus os invasores da periferia. Pelo mesmo Facebook, os de pijama e pantufa diziam-se ultrajados com o barulho, o trânsito caótico em toda a região do Batel e muita esbórnia depois da festa. Canteiros de flores foram pisoteados, lâmpadas quebradas, não havia banheiros, só havia sujeira, não havia policiamento, não havia controle do trânsito na região e, o mais notório, não havia qualquer ação preventiva por parte dos encarregados pela segurança dos cidadãos. Muito menos a mínima intervenção da Prefeitura.

E agora? Como controlar mais de 10 mil jovens, a galera gigantesca que vai tomar uma pracinha em que cabe no máximo a plateia de uma banda filarmônica? Conforme reclamações do Réveillon Fora de época do ano passado, o local já serviu para outros eventos e a prefeitura sempre se fez muito bem representar: “Na Virada Cultural havia banheiros químicos, ronda policial, trânsito impedido nas proximidades, enfim, organização”.

E agora? Será que vamos assistir a um repeteco do vexame público no Largo da Ordem, quando no domingo de pré-carnaval os Garibaldis e Sacis pagaram caro pelo troco de uma garrafa? Ou o espaço público será preventivamente cercado pelo cordão de isolamento?

Como prega no deserto o urbanista Jaime Lerner, “a rua é um equipamento muito caro para ser usado apenas pelo automóvel”. Traduzindo, foi o que escreveu o jornalista Márcio Renato dos Santos acerca da festa de sábado passado na rua do Bar do Torto. “A rua é sua. Eis a sensação que o Magrão, o Arlindo Ventura, proporcionou a todos nós, sete mil vivos, que participamos da Quadra Cultural. A rua é nossa”.

E agora? Como prevenir a tsunami da Praça Espanha?