Domingo sem futebol

O mercado publicitário precisa ficar atento aos milhares de desamparados que, por não gostarem de futebol, passam as tardes de domingo com o jacaré do Parque Barigui. Os criativos das agências de publicidade podem não saber, mas “Domingo sem Futebol” foi um dos grandes sucessos do rádio paranaense, surgido naquela década de 1960 que começou com o rebolado de Elvis Presley, impondo um ritmo esquisito chamado rock and roll. Naqueles bons tempos em que o Coritiba desafiava o Brasil e o mundo no Alto da Glória, para concorrer com a maioria das emissoras, a Rádio Ouro Verde lançou nas tardes de domingo um programa que a princípio não ganharia nem mesmo de um joguinho entre casados e solteiros.

Não foi o que aconteceu com a ideia do radialista Jair Brito: “Domingo sem Futebol” só perdia para os gols de Zé Roberto, no Alto da Glória, ou os gols de Sicupira, na velha Baixada. Na contramão dos sucessos mundiais, a Rádio Ouro Verde apresentava “o fino da bossa” nacional e internacional. Com entrevistas exclusivas do jornalista Aramis Millarch, o charme do “Domingo sem Futebol” era música, somente música. Enquanto os craques de chuteiras faziam sua parte no gramado, os craques de estúdio foram os primeiros a botar no ar “Chega de saudade”, com Elizete Cardoso acompanhada ao violão por João Gilberto. 

Domingo sem futebol não ganhou um campeonato de audiências por acaso. Com mais de 50 anos de rádio, Jair Brito contou como tudo começou: “Foi numa pequena emissora que se tornou grande e liderou a audiência em Curitiba no fim dos anos 1950 e início dos anos 1960. Tocando só música, ou melhor tocando “só boa música”. Em 1958, fui contratado como programador musical da Rádio Colombo, do radiodifusor Ronald Stresser, que também era concessionário da Rádio Ouro Verde. Com apenas alguns meses de trabalho na Colombo, Ronald me fez um desafio: colocava nas minhas mãos o futuro da pequenina Ouro Verde, que falava com 250 watts para a Praça Tiradentes e cochichava para alguns bairros da cidade”.

Aos poucos, Jair Brito foi se afastando da Colombo para fazer da Ouro Verde a campeã de audiência. A consagração definitiva veio com um jingle que “vendia” a própria rádio, talvez o primeiro do rádio brasileiro. Foi uma produção de Jair Brito, finalizada nos estúdios da RGE, em São Paulo. Com grande orquestra, os“Titulares do Ritmo” (conjunto integrado só por cegos) eram ouvidos até nos confins da cidade: “Ouro Verde, Ouro Verde! Só música, boa música! Ouro Verde, Ouro Verde!”.

E assim toda Curitiba passou a cantar esses versos, com ou sem futebol!