Quem foi o mago Sana-Khan? Quem seria o bruxo paranaense que no dia 1.º de janeiro de 1930, no Hotel Glória, leu a mão de Getúlio Vargas e previu, perante testemunhas da Aliança Liberal, que o então candidato a presidente não seria eleito pelo voto: “Vossa Excelência será o presidente do Brasil pela força das armas!”?

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Não foi preciso uma bola de cristal para prever o quanto Sana-Khan ainda é lembrado no Paraná e, ainda, quantos associam o mago às lendas de Aníbal Curi, o guru e bruxo da política paranaense.

Dois exemplos.

Do leitor ACarlos recebi esta mensagem: “O meu pai falava deste Sana-Khan. Eu, quando criança, não dava bola, e hoje vejo que ele tinha razão. Mas isso é passado, como passado também é Aníbal Curi. Pena que os políticos do Paraná tenham aprendido pouco com o velho bruxo, talvez não estivéssemos no limbo da política nacional, como hoje nos encontramos”.

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Do celebrado radialista Jair Brito veio uma pauta para a história: “Eu tinha conhecimento de que Michel Curi, irmão de Aníbal, fazia previsões incríveis.

Duas delas: uma envolvendo uma frustrada viagem de Rafael Iatauro ao exterior, e outra quando Michel antecipou o número de dias da curta temporada de Jayme Canet no Banestado. Você pode levantar essas e outras previsões de Michel consultando Rafael Iatauro”.

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Com a prerrogativa de cronista, incluí o bruxo Aníbal Curi no episódio de Sana-Khan relatado pelo escritor e repórter Domingos Meireles -”1930 (Os órfãos da revolução)”. Michel Curi não foi citado porque a notoriedade de Aníbal ultrapassa a fama do irmão. Na família Curi, o verdadeiro mago foi Michel. Aníbal, como se isso fosse pouco, era “apenas” bruxo. Ou guru.

O radialista Jair Brito indicou a pessoa certa para contar das magias de Michel Curi. Rafael Iatauro, hoje chefe da Casa Civil do governador Requião, não só privou da intimidade da família Curi, como ele próprio é um dos gurus da política paranaense.

Iatauro, aliás, nos deve um livro contando da saga dos Curi, família numerosa oriunda das cidades gêmeas de União da Vitória (PR) e Porto União (SC). Com a morte prematura da mãe, uma nobre senhora educada na França, os irmãos Curi foram criados pela irmã mais velha, Odete, casada com Ítalo Conti. O mais velho chamava-se Jorge Curi, ex-deputado federal e amigo íntimo do ex-governador carioca Carlos Lacerda. Read (Nípton) Curi (pai da nova desembargadora Ângela Curi Munhoz da Rocha) foi gerente do Banco do Brasil em União da Vitória por 40 anos e poderia ter sido o secretário da Fazenda do abortado governo de Ary Queirós, de quem era tio. Neste “hilário” episódio do fim do governo Álvaro Dias, diga-se, faltou a premonição do irmão mago.

“Papagaio come milho, periquito leva a fama”, esta era a marchinha de carnaval dos tempos de juventude da família Curi. E esse ditado popular também serve para elucidar o mistério dos dois irmãos Curi. Cartorário, Michel Curi era o vidente da aristocracia paranaense. Na penumbra o mago se concentrava, fazia vigílias (“entrava em parafuso”, no dizer de uma testemunha ocular) e assim contava o futuro dos ilustres sócios do Country Club e demais endereços do poder. Ainda segundo a testemunha ocular, Michel só não previu uma triste passagem de sua vida íntima, mas este é um capítulo muito particular. Talvez por ser mágico, é relevante contar que Michel Curi, nos anos 60s, foi diretor do jornal “Última Hora” no Paraná. Que requeria a bola de cristal para administrar o legado de Samuel Wainer e Getúlio Vargas.

Até o último dos seus dias (30 de agosto de 1999), o mais poderoso guruato do Paraná pertencia ao ex-deputado Aníbal Curi, e “guru” se transformou em codinome do maior líder e conspirador político do século passado. Tão poderoso era Aníbal Curi, que quando faleceu entrou no céu soltando o verbo:

– Quem mandava aqui?

Esses eram os mestres da futurologia paranaense: Aníbal, o guru, Michel e Sana-Khan, os magos. Na palma da mão, ditavam até a previsão do tempo.