Sendo os descendentes de italianos a maioria dos oriundos da Europa, reconhecemos nos costumes e na vida italiana muito do que ocorre no Brasil. Nos reconhecemos até nas leis locais. Sempre há um jeitinho italiano de burlá-las. Existem as leis que pegam e as que não pegam. Impopular é a aplicação da lei e não a lei em si, a qual é manifestamente uma coisa boa e constitui a resposta certa para qualquer problema que pretenda solucionar. Na sociedade anárquica modelar da Itália, existe um sem-número de leis cujo valor nunca será questionado. E sob esse disfarce ladino, todos vivem como acham que devem viver.

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Discreto, válido, relativo: essa é a fórmula italiana para qualquer discussão, sintetiza o escritor inglês Tim Parks no livro “Meus vizinhos italianos”. Uma das satisfações do italiano é achar que, com essas três palavras, ele fez uma análise acurada da situação, apreendeu suas ironias, avaliou os prós e os contras e concluiu como um analista astuto, observando todo o espetáculo à distância.

Essa fórmula pode ser aplicada em qualquer discurso. Sobre dirigir bêbado, por exemplo:

– Sim, a nova lei sobre dirigir embriagado, elaborada discretamente (ou seja, com inteligência), na verdade é na maior parte válida (sensata, funcional), mas tudo isso é relativo (só tem importância secundária), já que os instrumentos para a aplicação da lei não estão disponíveis ou, se estão, ninguém tem intenção de usá-los.

O curitibano é frio, tímido, conservador, um bicho arredio? Para responder à pergunta, temos a fórmula genérica de um típico curitibano de Santa Felicidade, de origem vêneta:

– O curitibano é antes de tudo discreto. Inteligente, vive discretamente, se manifesta timidamente e, modesto, não gosta de exibir o que guarda no bolso ou na poupança. Esse comportamento é válido, na medida em que esse estilo de vida reflete o aspecto civilizado da cidade. Contudo, esse conjunto de fatores é relativo: o curitibano não só desconfia da própria sombra, como também detesta quem venha lhe fazer sombra.

A mesma fórmula pode ser aplicada à recorrente dúvida do momento: quem será o próximo prefeito? Luciano Ducci ou Gustavo Fruet?

– Discretos, são dois curitibanos típicos. São válidas as pretensões de Ducci e Fruet, considerando-se a vida política pregressa dessas duas reservas políticas com muito a oferecer para o futuro do Paraná. Entretanto, qualquer prognóstico é relativo porque a acima de tudo a eleição para prefeito de Curitiba será travada entre Beto Richa e Gleisi Hoffmann.

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