– Curitibano é um bicho arredio!

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Falou sem mais nem menos um senhor de gravata no balcão do bar, aquela terra de ninguém onde qualquer um apoia o cotovelo e se apossa de meio metro de granito para rever ou fazer amigos, se enturmar. A origem do recém-chegado se revelou quando ele pediu “uns chopes e dois pastéis”.

– Você é paulista, presumo?

– Estou morando em Curitiba há mais de um ano, mas até hoje me pergunto: por que o curitibano é um bicho tão arredio? É frio. Não fala com os vizinhos, não aceita conversa e mal responde um bom-dia, boa-tarde, boa-noite.

– De onde você tirou essa má impressão?

– Por mim mesmo. Tenho um vizinho que encontro todo santo dia no mesmo horário, na mesma esquina, caminhamos pela mesma rua e, por mais que eu insista, não consigo tirar um dedo de prosa com o casmurro. É o próprio curitibano arredio e frio.

– Tem certeza que ele é curitibano? Porque os números da cidade dizem que atualmente a maioria da população veio de fora.

– Tenho certeza absoluta. Meu vizinho é curitibano.

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O texto acima é o início da crônica de abertura do meu livro “Curitiba, melhores defeitos; piores qualidades” (Edição já esgotada). O diálogo não é imaginário. Adaptei das tantas conversas por aí a respeito do caráter arredio e frio do curitibano. O que é uma grande bobagem, pois somos feitos do mesmo barro e o que talvez nos faz um tanto diferente dos outros brasileiros é que aqui no Brasil Meridional o humor tem o acento do clima frio.

Melhor dizendo, temos a nossa própria linguagem. A linguagem de Poty Lazzarotto, cujo idioma era o silêncio. Ou a linguagem de Paulo Leminski, com sua língua solta a recomendar “uma viagem em asas de andorinha pelas várias linguagens desta cidade de nome tupi, ouro de ipê pelo chão, onde se diz leitE quente, não leitchi quentchi”.

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São poucos os que já viajaram em asas de andorinha por Curitiba. Entre os privilegiados de espírito, Eloi Zanetti. O escritor curitibano da gema que estará lançando amanhã às 19 horas, no pequeno auditório da Universidade Positivo, seu novo livro “Mudou Curitiba ou mudei eu?” – um documento de cidadania para os neos curitibanos.

Quem é o curitibano típico? – pergunta e responde Eloi Zanetti: “A mistura dos tipos humanos que forma Curitiba de hoje criou um personagem que sabe se esconder por trás de uma aparente timidez. O Curitibano mostra-se ressabiado com estranhos e mantém sempre `um pé lá e outro cá´  quando precisa conviver com gente de fora. Comportamento que o estrangeiro logo percebe quando pisa pela primeira vez na cidade. É que Curitibano precisa confiar no outro antes de oferecer sua amizade. Uma vez acertado esse assunto, ele será seu amigo para o resto da vida”.

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Catarina de origem, e amigo que sou de Zanetti para o resto da vida, esse é o livro que posso apresentar como documento de minha cidadania curitibana.