Do rolê do Chaim ao rolo do Petraglia

“Que atraso, moçada! Há 30 anos o Chaim já usava a palavra rolê.

E não pra se referir à gola! Mas com o sentido de sair por aí, pass(e)ar por aí, exemplo: – Vamos dar um rolê na madruga?”.

Em boa hora o escritor Carlos Alberto (Nego) Pessoa lembra que esse “rolezinho” que está assombrando a classe média paulista não é nenhuma novidade em Curitiba. O rolê a que se refere Nego Pessoa acontecia nos anos 1970, na Boca Maldita. Ali Chaim, um dos maiores “carrapichos” da crônica policial, tinha um fusca da rádio em que trabalhava para fazer a ronda da cidade. Rolê que tinha um roteiro imprevisível. De delegacia em delegacia, no itinerário o califa Ali Chaim tanto podia passar no Cemitério Municipal para se despedir de defunto de sua estimação, quanto passar em revista as boates da zona do Parolin.

Ah, se aquele fusca falasse. Era uma brasa, mora! – como se dizia naqueles tempos da Jovem Guarda. Antes da ronda policial, Chaim passava pela Boca Maldita:

– Vamos dar um rolê na madrugada?

E no fusca com passe livre e acima de qualquer suspeita embarcavam alguns intelectuais de plantão, os madrugueiros da Maldita que tinham como rotina fazer o trajeto peripatético entre o Café da Boca e a Livraria Ghignone: Jamil Snege, Fábio Campana e Nego Pessoa, para citar os três mais corajosos. Dalton Trevisan, que fazia seus próprios rolês na vida noturna, nunca entrou no fusca do Chaim.

Depois do rolê do Ali Chaim, em 1997 vieram os roles do Shopping Estação e, já neste século, os roles do Shopping Palladium , até chegar ao rolê que o secretário-geral da Fifa vai dar hoje nas obras da Arena da Baixada.

Para fiscalizar os rolos de Mário Celso Petraglia, o rolê de Jérôme Valcke não será um rolezinho qualquer. O mestre de obras da Fifa vai dar um rolê para matar de inveja os manos da periferia de São Paulo, acompanhado de uma legião de jornalistas.

Jérôme Valcke, o funkeiro da Fifa, vai entrar na Arena cantando a letra adaptada do “Funk da mega ostentação”, dançando ao lado dos haitianos que trabalham na obra:

Eu tô que tô / Eu tô na pista / Eu tô ostentando mais que o Eike Batista /

A Copa tá chegando / Nois vai dá um rolê com os primo / Nois vai pra Curitiba / Andar de submarino/
Se liga aí Petraglia / Você não manja nada / Tu compra camarote /
Eu compro logo a Baixada!