Sem nenhuma surpresa, o prefeito Gustavo Fruet suspendeu por tempo indeterminado as calçadas de granito na Avenida Bispo Dom José. Também não seria nenhuma surpresa se os técnicos da prefeitura, com o parecer de historiadores, chegassem à conclusão que um calçamento de tal magnitude só teria justificativa se a Avenida Bispo Dom José fizesse esquina com a Avenida Silva Jardim.

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Pode parecer mais um desses relatórios nonsense da administração pública, considerando que duas paralelas não se cruzam. Entretanto, o parecer dos historiadores poderia ter como argumento o absurdo de duas ruas que se encontram no nada.

José de Camargo Barros foi o primeiro bispo de Curitiba. Grande orador, literato e jornalista teve uma morte trágica aos 48 anos, quando o navio italiano “Sírio” naufragou na costa da Espanha, no dia 4 de agosto de 1906. Seu corpo nunca foi encontrado, assim como desapareceram outros prelados que estavam retornando de Roma. O único religioso a se salvar da tragédia foi Dom José Marcondes Homem de Mello. Psicologicamente abalado, em seguida Dom Marcondes renunciou à sua arquidiocese no Pará, temendo viajar constantemente pelos caudalosos rios amazônicos. Outro religioso teve chances de sobreviver, mas preferiu morrer a se jogar nas ondas bravias.

“Sírio” era um belo navio para a época. Ao partir de Gênova, transportava 1700 passageiros, entre os quais 700 emigrantes italianos (sobretudo vênetos e trentinos) que iam para o Brasil, Argentina e Uruguai. Deles, 300 morreram e 200 ficaram desaparecidos. Os que conseguiram se salvar foram abrigados pelas populações de Cabo Palos, Cartagena e Alicante. O comandante Giusepe Piccone foi preso por autoridades espanholas, acusado de se aproximar demais dos arrecifes para embarcar emigrantes clandestinos nas costas da Espanha. No momento da colisão, o navio desenvolvia 15 nós, o que fez com que a proa se elevasse na rocha, abrindo o casco, que foi invadido pelas águas do mar.

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No dia 1º de julho de 1891, aos 30 anos de idade, o advogado e jornalista Antônio de Silva Jardim estava de passagem por Napoli, na Itália, quando fez questão de sentir de perto o hálito doVesúvio. Apesar de advertido, ao se aproximar da boca do vulcão o solo tremeu e Silva Jardim desapareceu. Foi tragado por uma fenda que se abriu na cratera do Vesúvio.

Diante das duas tragédias – dirão os historiadores -, a Avenida Bispo Dom José e a Avenida Silva Jardim poderiam ganhar calçadas de distinção até mais alta que o granito. De mármore, na esquina do nada.

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