“Ela chorava sozinha na praça. Sua pequena calça Lee, sua blusa da banlon, suas sandálias brancas. E um mundo de respostas que não podia pronunciar. Apenas umas palavras repetia sempre: ‘Ele quebrou o rádio, a cadeira e fez um buraco no chão!’. Esse mistério da menina doce de olhos tristes da cidade da Lapa perdura por quase dois anos no Paraná.”

continua após a publicidade

Com essa abertura, a revista O Cruzeiro publicou a matéria de capa da edição de 1.º de setembro de 1971.

O texto da reportagem é do jornalista Ivar Feijó, as fotos têm o crédito de Walter Luiz.

Trinta anos depois, o mistério da menina doce de olhos tristes da Lapa, sem passado e sem memória, pode estar prestes a ser desvendado graças à persistência e à sensibilidade da escritora Maria Thereza Lacerda, ex-mulher do falecido jornalista Ivar Feijó, na época correspondente de O Cruzeiro no Paraná.
No seu mais recente livro,

continua após a publicidade

A Pedra do Caminho, a lapiana Maria Thereza Lacerda contou suas memórias e trouxe à tona esse mistério que a envolveu, por compaixão, junto com o marido repórter. No livro, a escritora repassou o que nunca lhe saiu da imaginação: que história estaria escondida nos olhos tristes de Mônica, a menina abandonada na praça ?

“Naquele verão, meses após o seu aparecimento na cidade, eu a conheci e as freiras pediram que examinássemos as roupas que ela vestia no dia em que foi encontrada. Elas tudo faziam para tentar esclarecer a procedência da menina. Como eu a senti afetivamente carente, convidei-a para passar algumas horas conosco. Ela se aninhava nos meus braços de maneira comovente.”

continua após a publicidade

Através dessa coluna, a possível sobrinha da menina Mônica, Elizângela, entrou em contato com Thereza Lacerda e, ao mesmo tempo, tratou de conhecer a senhora que hoje vive em Blumenau (com uma filha e separada do marido) e que teria sido batizada como Luci: “Mônica (Luci) lembra que tinha irmãos, que a mãe reunia os filhos embaixo de uma árvore e que tinha um poço. Assim minha mãe descreveu também. Foi pedido que as duas fizessem um desenho do que se lembravam: o desenho saiu igual”.

Elizângela, que há muito tempo busca a tia desaparecida, foi à luta: mandou fazer no Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba o teste de DNA de Mônica (Luci), infelizmente de resultado inconcluso: “Deu 10% positivo”. Restando pouco para esclarecer o mistério de 30 anos, Elizângela e Mônica (Luci) pedem ajuda para realizar outro teste, agora na Universidade Federal do Paraná, mais apurado e confiável: “No IML não vimos o resultado no papel. Só disseram que tinha dado negativo, e mais nada”.

Em busca de uma boa alma que colabore no definitivo teste de DNA, daqui vai o apelo: “Nos ajudem, a semelhança, as histórias, o tempo, os detalhes, são muuuuito iguais”.