Discurso dos três reais

Jaguara, o Animador de Velórios dos Campos Gerais, foi convocado pelos marqueteiros de Dilma Rousseff para participar da campanha de lançamento da nota de 3 reais, a ser posta em circulação no próximo dia primeiro de abril.

Dentre as atribuições do Jaguara, assessorar a presidente em seu discurso em rede nacional será o de menos. Além de corrigir o tempo dos verbos – os redatores palacianos têm a mania de conjugar tudo no pretérito -, o Jaguara vai precisar dar o retoque final na redação, pois no governo ninguém tem coragem de botar os pingos no is.

Difícil foi convencer Dilma Rousseff a lançar a moeda de 3 reais num 1.º de abril, como desejam os marqueteiros. Quando o Dia da Mentira surgiu na França, no começo do século 16, o Ano Novo era festejado em 25 de março, junto com a chegada da Primavera. As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1.º de Abril – explicou o Jaguara. Por isso todos acharam que o Carlos IX estava mentindo quando, em 1564, anunciou a adoção do calendário gregoriano, determinando assim que o Ano Novo fosse comemorado no dia 1.º de Janeiro.

Diante desse precedente histórico, Dilma Rousseff foi convencida de que certas mentiras podem dar ótimos resultados junto à opinião pública. O mais importante, lembrou um dos assessores de comunicação da presidência, é a presidente vender o seu peixe. Na Itália e na França, por exemplo, o Dia da Mentira é chamado respectivamente de “Pesce d’aprile” e “Poisson d’avril”, o que significa literalmente “peixe de abril”.
No Brasil, por sua vez, o Dia da Mentira tornou-se uma das mais respeitadas instituições nacionais, conforme tema da palestra proferida pelo Animador de Velórios dos Campos Gerais. Diante dos 39 novos ministros e demais autoridades do Palácio do Planalto, o Jaguara provou como dois mais dois são cinco, contando com os aditivos orçamentários.

Na história do Brasil – exemplificou o Animador de Velórios -, os generais determinaram comemorar o golpe militar em 31 de março e não em 1.º de abril, a data real do sinistro; Juscelino criou a Capital da Mentira; Jango Goulart não foi escorraçado, fugiu; Jânio Quadros não bebeu demais da conta, renunciou; Tancredo Neves se internou por livre e espontânea vontade no Hospital de Base de Brasília para tratar de uma simples dor de barriga; José Sarney, o único imortal de verdade da Academia Brasileira de Letras, é escritor juramentado; Collor de Mello era um caçador de Marajás; Fernando Henrique Cardoso tinha um pé na cozinha e outro no quarto de despejos; Zé Dirceu é um herói revolucionário incompreendido; tudo vale a pena quando a propina não é pequena; e Luiz Inácio Lula da Silva é autor da frase que rege a vida política nacional: “A desgraça da mentira é que, ao contar a primeira, você passa a vida inteira contando mentiras para justificar a primeira que contou”.

Diante da sinfonia de panelas que o discurso da presidente causou no Dia da Mulher, na noite deste domingo, os marqueteiros decidiram delegar ao ministro da casa Civil, Aloizio Mercadante, a tarefa de explicar à população a importância da nota de três reais para a recuperação da economia nacional.

Consultado, o Jaguara não só concordou como também sugeriu um novo bordão para desmoralizar os adversários da alta classe média: “Abaixo os paneleiros do andar de cima!”.