Desde 1985 venho ensaiando dar de presente para a cidade, num desses 29 de março, o “Dicionário Afetivo de Curitiba”. A ideia nasceu com o mapa amoroso, desenhado por Poty Lazzarotto para o amigo carioca Luiz de Araújo Silva conhecer a nossa Potylândia, como se estivesse sendo conduzido pelo próprio mestre.

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Desde então venho patinando com o projeto na cabeça, sendo que para botar o abecedário afetivo de Curitiba bastaria, digamos, botar a bunda na cadeira por uns bons três meses. Muita coisa já está escrita e compilada, começando pelas dez páginas finais de “Curitiba: Melhores Defeitos, Piores Qualidades”, onde bato a poeira no sótão da nossa memória. Lembra? Bastaria botar em ordem alfabética o mapa da Churrascaria Cruzeiro na Avenida Batel e do garçom Bole (Boleslau); do Gui Sopas; do Tipiti Dog; do Restaurante Hummel Hummel, da Ingeborg Rust; do Buraco do Tatu, da Lá no Luhm (no pacote do perfume, arrematando o nó da fita, o feminino tinha flor do campo e o masculino um rolinho de macarrão); e de A a Z teríamos assim o Dicionário Amoroso de Curitiba.

As ideias são como passarinhos. Quem não lançar a mão com presteza, outros serão mais ligeiros. No ano passado, passando em revista as livrarias de Paris (mesmo sendo analfabeto em francês), achei pronto o que eu já tinha na cabeça: a coleção chamada Dictionnaire Amoureux” (Dicionário Amoroso), publicada pela Editora Plon. Com autores escolhidos a dedo, cada um deles foi incumbido de compilar, de A a Z, sua paixão por sua especialidade, por uma cidade, uma região, um país como o Brasil (Dictionnaire Amoureux du Brésil). Alguns exemplos: “Dicionário Amoroso da França”; “Dicionário Amoroso da Provence”; “Dicionário Amoroso do Cinema Francês”; “Dicionário Amoroso do Louvre”, “Dicionário Amoroso da Gastronomia”; e a lista é longa porque não poderiam faltar queijos e vinhos, naturalmente.

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A pessoa certa para escrever o “Dicionário Amoroso de Curitiba” seria o jornalista Aramis Millarch (a coluna Tabloide estaria na letra T, ao lado da TVProgramas do Luiz Renato Ribas), ele próprio a enciclopédia curitibana que nos faz tanta falta. A única dificuldade seria o Aramis pronunciar perfeitamente todo o alfabeto, de A a Z. Principalmente o Z. Por ser ele um troca letras, certa vez Aramis chamou o arquivista do jornal para lhe trazer a foto do diretor de Teatro Oraci Gemba. Passaram-se alguns minutos, volta o rapaz de mãos vazias.

– Seu Aramis, não achei o Gemba.

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– Como não, tem uma pasta enorme. Volta lá e procura direito.

Retorna o menino:

– Desculpa, seu Aramis. Mas não consigo achar o Gemba.

– Como não, o Gemba está no Z! No Z de Gato!