Diz o celebrado pianista paranaense Noel Nascimento, atualmente morando em Berlim, que “as pessoas andam tão abestalhadas que comemoram dia do político, do presidiário, da pipoca, da goiabada, da cueca. Poderiam comemorar o dia do burro também. O que ia ter de relincho nessa internet…” – arremata Noel, que além do mais é filho do grande escritor Noel Nascimento, nosso falecido confrade da Academia Paranaense de Letras.

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Por estar longe tão longe do nosso dia-a-dia, Noel não tomou conhecimento da notícia que o Diário Oficial do Paraná trouxe na sexta-feira passada (17), de que o governador Beto Richa sancionou a lei que institui o Dia Estadual de Higienização das Mãos, a ser realizado anualmente em 5 de maio.

Méritos ao governador, que em qualquer circunstância não se esquece de lavar as mãos. No entanto, para não restar nenhuma dúvida quanto às boas intenções de mais esta efeméride, é bom que se saiba que Pôncio Pilatos já tem o seu dia consagrado. Por incrível que pareça, o homem que lavou as mãos diante da condenação de Jesus Cristo chegou a ser considerado santo, reverenciado e canonizado pela igreja etíope, quando declararam o dia 25 de junho como o Dia de São Pôncio Pilatos.

Como se sabe, o prefeito da Judeia entre 26 e 30 a.C. foi um político que governava à base da corrupção, do suborno, do achaque, da propina, devassas, ofensas e injustiças. Afastado do cargo (seria impeachment?), foi chamado a Roma para se explicar e terminou a carreira de corrupto na vala comum dos suicidas.

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A controvertida reabilitação do prefeito de ficha suja e mãos limpas se deve à aparente relutância de Pilatos em condenar Jesus, ponto de partida para que os primeiros cristãos começassem a contar histórias mais amenas a respeito do homem que também tirou o corpo fora. Depois de dois séculos da morte de Cristo, as pessoas se referiam a Pilatos como se ele tivesse reconhecido a inocência de Jesus e a sua divindade.

Além do Dia da Mentira e do Dia de Judas, no Brasil o Dia de Pilatos seria uma das mais respeitadas instituições do calendário nacional. Principalmente agora, quando nunca antes neste país se lavou tanto as mãos. Assim como na Quinta-feira Santa temos a cerimônia do Lava-pés, no dia 25 de junho teríamos fila de políticos higienizando as garras diante do bispo.

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