No outono, com a chegada dos pinhões à mesa, a ave de arribação pergunta ao bicho do Paraná:

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– O que vem a ser essa tal de sapecada?

Pra quem chegou agora é preciso contar como começou o romance entre Campo Largo e Ponta Grossa. A lenda de como Ponta Grossa sapecou Campo Largo.

Moça bonita e prendada, se havia duas coisas a que Campo Largo não resistia era peão bonito e pinhão viçoso. Certa tarde de inverno, a guapa ficou com desejo de comer pinhão. Apanhou um saco e reuniu a piazada:

–Vamos ao Capão da Limeira juntar pinhão?

A piazada ficou tão alvoroçada que até cambotes viravam no capim. Garraram um trilho e, no que vararam a sanga, Campo Largo notou um cavaleiro a voltear o campo. Assim, de longe, não reconheceu o ginete, mas tinha quase certeza de que, pelo porte do alazão, o cavaleiro era mais bonito ainda.

Um frio lhe passou pelo corpo, o coração bateu mais acelerado. Entrou no capão e, ajudada pelos piás, começou a juntada. Já estavam com pinhão em meio saco quando ouviram um ruído. O pulsar da moça acelerou-se. Seria o alazão que chegava? Mas, qual nada, era somente uma novilha que adentrava o mato.

Campo Largo dirigiu-se então, como quem não quer nada, até a beira do capão e observou que o cavaleiro, no garboso alazão, volteava bem longe, talvez nem viesse até ali. Uma ideia ocorreu-lhe, de súbito.

– Ei, piazada! Que tal se a gente fizesse uma sapecada?

Em pouco tempo as grimpas ardiam e o rolo de fumaça, subindo além do capão, era o que Campo Largo mais ansiava. Se onde há fumava há fogo, só assim o peão viria acudir.

Quando os pinhões começaram a estalar, desmancharam a fogueira com um galho e apagaram o fogo. Com pedaços de pau, a gurizada macetava as sementes, comendo-as rapidamente. Campo Largo nem comia direito, calculando o tempo que levaria para o alazão chegar.

De repente, um barulho de cascos batendo foi se aproximando, já se distinguia um vulto vestindo capa de campanha, chapéu de abas largas. As pernas começaram a tremer quando Campo Largo levantou os olhos e viu o alazão garboso na sua frente.

– Fazendo uma sapecada, moça?

– Decerto!

– Vi de longe a fumaceira e vim ver o que era, podia ser algum fogo no capão, depois da geada é perigoso. Não precisa olhar assustada pra mim, moça. Muito prazer, meu nome é Ponta Grossa! E o seu?

– Prazer, meu nome é Campo Largo!

– Então? Não sobrou nada pra mim?

– Só mesmo catando mais um pouco!

– Que não seja por isso, pois lhe acompanho pra catar mais uma leva!

Campo Largo disfarçou a satisfação, passou a mão no saco e ordenou à gurizada:

– Vocês ficam aqui cuidando do alazão! Eu e o moço vamos ali no outro capão e já voltamos!

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