Sempre às ordens de uma boa polêmica, o escritor Carlos Alberto (Nêgo) Pessôa está com um livro no prelo que, como de costume, vai reunir o que há de melhor em Curitiba em torno de suas sempre bem vindas pensatas. “Pela ordem (alfabética)” é título já revisado, desenhado, diagramado, só faltando – à maneira do grande cronista esportivo que sempre foi – o ponta pé inicial para a bola rolar na gráfica.

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“Será uma antologia dos meus textos, colocados em ordem alfabética” – avisa o Pessôa, desde já dizendo aos amigos e admiradores que, por ser uma obra para interessados, não vai fazer lançamentos com direito a autógrafos e à fila de sempre.

Numa amostra grátis do livro que vai às livrarias com 300 páginas, três dos verbetes, pela ordem alfabética:
ACABOU – A história do Brasil acabou no dia 1.º de janeiro do ano da graça de 2003. O final não poderia ser mais feliz: a posse do Lula na Presidência da República. Elegemos e empossamos “Mimi o Metalúrgico”, de voz estranha, língua presa, 17 irmãos, nordestino, retirante. E atingimos o máximo de democracia possível. Vale dizer a história do Brasil acabou. 

História que nem durou tanto; apenas 180 anos, da Independência ao Lula. De 1822 a 2002. Menos de dois séculos! E quanto sangue, luta nesse processo! Simultâneo à construção do país, à sua integração, que várias vezes correu riscos de rachar. Curioso: a quase unanimidade dos movimentos separatistas ocorreu no Nordeste; mais fundos em Pernambuco. A longa guerra civil no Rio Grande do Sul teve outro caráter.

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ADÃO – Eva merece banquete de desagravo. Comeu e convenceu o babaca do Adão a comer o fruto da árvore do bem e do mal. Se não fosse esse ato de coragem, desobediente, rebelde, ainda estaríamos entre a barbárie e a animalidade. Ela transformou o pusilânime Adão. E ele, ignóbil, retribuiu com ignomínia. Quis tirar o seu da reta, transferir a trolha toda pra ela. Como se não tivesse responsabilidade, como se fosse vítima inerme, involuntária, das sedutoras, das diabólicas artes de Eva. Verme Adão, eterno Adão. O primeiro último homem! A sonhar com liberdade e irresponsabilidade. Pronto a experimentar a maçã e prontíssimo pra cair de joelhos, apontar Eva à execração. Humano Adão, demasiado Adão, demasiado humano.

ADEMIR DA GUIA

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Rivelino ainda jogava no Corinthians. Que enfrentaria o Palmeiras do Dudu-Ademir da Guia. Antes de entrar em campo, o treinador chamou o Riva:

– Quero que você marque o Ademir.

Rivelino recusou. O treinador insistiu. E o Rivelino nada. Na terceira tentativa jogou a toalha; Rivelino confessou:
– Eu também quero ver o Ademir jogar.

Ademir da Guia, nome de craque, sobrenome de craque, futebol de craque (Armando Nogueira dixit); craque. Titular do Palmeiras durante 14 anos! Nunca teve distensão muscular, nunca sujou sequer os canos das meias. Sempre de pé, sem dar pontapé. Inesquecível.

ADIDOS&MAL PAGOS

Os adidos e mal pagos desconhecem os seus direitos! Os adidos e mal pagos pensam que os governos fazem favor ao atendê-los – quando os governos não fazem mais do que as suas obrigações! Os adidos e mal pagos ignoram que tudo o que o governo faz ele faz com o dinheiro deles, adidos e mal pagos. Que pagam impostos escorchantes, indiretos, escondidos sob tudo o que compram e consomem. Impostos que estão próximos de 40%! Pra quê? Pra levar uma porta na cara! Ouvir seguidos nãos numa hora de angústia e necessidade!