No papel de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, disse Burt Lancaster aos seus botões, depois de dançar de rosto colado com Cláudia Cardinale no filme O Leopardo (Il Gattopardo):

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– Se queremos que tudo permaneça como está, é preciso que tudo mude.

Poucas frases têm sido tão lembradas e, especialmente agora, esta deve ter sido citada em alguma reunião de alto comando, diante dos sucessivos desmanches de ditaduras no Norte da África e no Oriente Médio.

Olhando atentamente para o mapa do petróleo, onde estão assinalados os cemitérios de Teerã (Irã) e Bagdá (Iraque), Barak Obama deve estar falando aos seus botões, ao lado de estrategistas militares e analistas de Facebook (não à toa, um egípcio batizou a filha que nasceu esta semana com o nome de Facebook Jamal Ibrahim).

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– É preciso mudar alguma coisa para tudo continuar como antes.

Como ontem o mercado americano de petróleo ficou fechado devido ao feriado do President’s Day (Dia do Presidente), é muito cedo para tentar adivinhar que bicho vai dar no Egito, Tunísia, Líbia e outras tiranias sob a guarda do Pentágono.

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Enquanto o ditador Muamar Kadafi não se abrigar sob a proteção de Hugo Chávez, com a anuência da CIA, devíamos estar mais preocupados com a “Revolução da Batata Frita” que acontece na Bélgica, há mais de 250 dias sem governo.

O pomo da discórdia (ou a “pomme frite” da discórdia) é um acordo para dar mais autonomia às regiões de Flandres (norte flamengo) e Valônia (sul francófono), além da capital Bruxelas que é bilíngue. Seria, digamos, uma disputa entre as torcidas do “flamengo” e do “vasco”.

Com a torcida para que a Bélgica continue eternamente sem governo, o que seria um bom exemplo para o mundo em guerra, quem conhece o sabor da inigualável cerveja belga sabe que a “Revolução da Batata Frita” não vai terminar tão cedo.

Por uma questão linguística, não há como as pessoas daquela região entre a Holanda e a França se entenderem na mesa de um bar.

– Uma cerveja bem gelada! (Em flamengo: Een fris pintge! / Em francês: Une bière bien fraîche!).

– Mais uma, por favor (Em flamengo: Graag nog eentje / Em francês: Emcore une, s’il vous plaît).

– A garçonete é casada? (Em flamengo: Is de dienster getrouwd of verloofd? / Em francês: La serveuse est mariée?).

– Saúde! (Em flamengo: Gezondheid! / Em francês: À la santé!).

Liberdade para os cervejeiros e batateiros da Bélgica. Se flamengos e francófonos não conseguem nem mesmo brindar na mesma língua, eles que tomem a saideira e cada um que peça a sua conta, por favor! (Em flamengo: De rekening, graag! / Em francês: L’addition, s’il vous plaît!).