Foi uma goleada para se assistir de costas. Assim como fazem os “stewards”, aqueles seguranças colocados à beira do gramado para ficar de olho na torcida. São cem deles em cada partida, calçam chuteiras para o caso de perseguir algum fujão na grande área, vestem colete verde e laranja fosforescentes e assistiram o Brasil e Alemanha na mesma posição que muitos brasileiros assistiram a debacle do Mineirão. De costas, pois quando os olhos não veem, o coração não sente.

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Depois da posição do Fred, o “steward” tem o melhor emprego do Brasil. Quiçá do planeta, pois quantos garotos por esse mundo afora gostariam de estar ali no Mineirão – mesmo de costas – para ver em ação todas as figurinhas do álbum?

“Anjo não tem costas!” – devem dizer os recrutadores da Fifa, com o manual de Regulamentos de Segurança na mão: “Os funcionários, não são empregados ou contratados para assistir ao evento. Eles devem se concentrar o tempo todo em seus deveres e responsabilidades”.

Assim como leões de chácara de boates, protegendo de costas o strip-tease das bailarinas, os seguranças dos gramados também têm seus momentos de compensação – como disse um deles em entrevista à Folha de S. Paulo, ao descrever as tantas expressões estampadas no rosto da torcida brasileira a cada movimento de Neymar: “Eu fiquei de frente para a área onde estava a Bruna Marquezini e ele foi bem perto da torcida festejar os gols” – lembra o sentinela, postado a menos de 50m das caretas e gritos da atriz e namorada do craque. “Quando o público fica de pé, eu me levanto, quando senta, eu me sento. É claro que a gente vibra por dentro, ao ver a torcida pulando, gritando. Mas a gente tá ali concentrado, vendo se há algum movimento estranho, algum incidente” – afirma o “steward” .

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Como tão bem comparou o “The New York Times” (no ótimo suplemento em português da Gazeta do Povo), a situação daqueles sentinelas é tão cruel que faz pensar no mito grego de Tântalo. Diz a mitologia que os deuses obrigaram Tântalo a sofrer fome e sede eternas. Ele ficava sob uma árvore com frutos pendendo para baixo, mas sempre fora de seu alcance, e toda vez que tentava tomar água o lago recuava. Tântalo é a raiz da palavra “tantalizing”, ou tentador em português.

A expressão “suplício de Tântalo” refere-se ao sofrimento daquele que deseja algo aparentemente próximo, porém, inalcançável, a exemplo do ditado popular “Tão perto e, ainda assim, tão longe”.

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Foi uma goleada para assistir de costas. De costas e com as mãos cobrindo a vergonha na cara.