Delírios separatistas

A propósito do referendum na Escócia, onde os puros maltes envelhecidos em barris de carvalho querem se separar das intragáveis cervejas da Grã Bretanha, o gaúcho Luis Fernando Verissimo escreveu em sua coluna que volta e meia surgem especulações sobre como seria um país desejável na América do Sul.

Tendo como capital Porto Alegre, evidentemente, Verissimo acha que Santa Catarina não poderia ficar de fora, se por mais não fosse, pelas suas praias. O Uruguai seria anexado, enquanto o Paraná talvez fosse incluído – ressalva Luis Fernando Verissimo, sem justificar a causa desta má vontade com os paranaenses. Ou seria um velho preconceito dos gaúchos, ressentimentos acumulados desde quando o Paraná foi 5ª Comarca de São Paulo e, mais adiante, quando os curitibanos barraram os maragatos na Revolução Federalista, fazendo com que Gumercindo Saraiva voltasse aos pampas com o rabinho entre as pernas?

Como bem lembrou o nosso grande cronista, volta e meia ressurgem estes delírios separatistas. Especialmente em época de eleições, retorna aquela velha tese de que as urnas racham o Brasil. De um lado o norte, nordeste e sudoeste; do outro, os inconformados militantes da secessão no Brasil. Um desses delírios ganhou bandeira no Bar Botafogo, em Curitiba, quando um grupo de inconformados com a eleição do “Caçador de marajás das Alagoas” criou a frase que se espalhou em adesivos pelo Brasil meridional: “O sul é o meu país”. Um galhofa de mesa de bar que virou ideologia de para-choque de caminhão.

Esse debate separatista no Brasil precisa ser mais aprofundado, explicitado. E atenção: isto é uma ironia! Não que a discussão implique em novas divisas geopolíticas, uma cisão republicana. Apenas uma maior autonomia de costumes para as diversas regiões do país.Comunidades autônomas e com usos e costumes próprios, o Brasil está precisando de muitas. A cada brasileiro, sua própria Pasárgada: “Lá sou amigo do rei / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei”.

Aqui no Paraná, a Pasárgada do poeta Manuel Bandeira cabe ao escritor Domingos Pellegrini, dentro dos limites de Londrina. Pois que assim seja, a Comunidade Pé Vermelha do Norte do Paraná, livre e soberana, acariciando o próprio ego e umbigo per seculum seculorum.

Paulistas e paulistanos, os males do Brasil são. Eles que continuem com os seus conhecidos hábitos antropofágicos, porém restritos às suas atuais divisas; e que nos poupem de seus exóticos representantes na Câmara Federal. Como bem colocou Luis Fernando Verissimo, desde já Imperador da República Independente do Guaíba: “Há quem diga que já houve uma secessão no Brasil. São Paulo separou-se do resto e há anos é a sua própria União independente”.

“Delírios, puros delírios!” – na opinião de Verissimo. Se bem que…