Delenda Batel!

A derrocada da Pracinha do Batel parece inevitável. É condição ?sine qua non? para desafogar o trânsito de Curitiba. O presidente Lula usou essa expressão na entrevista coletiva de ontem, e ainda fez gracinha com os jornalistas: ?Vocês gostaram da expressão, não??. A frase vem do latim, quer dizer ?sem o qual não pode ser?.

?Delenda Cartago!? Era com essa outra frase latina que Catão terminava seus discursos, conclamando o Senado romano a destruir Cartago. Em 146 AC, de Cartago não sobrou pedra sobre pedra. Consta que Aníbal Barca, o general cartaginês, teria dito então: ?Se a derrota é inevitável, relaxa e goza!?.

?Delenda Batel!? é a palavra de ordem de algum poderoso Catão que promulga as leis de trânsito de Curitiba. Ao povo batelense, já convencido de que a queda da pracinha é uma condição ?sine qua non?, só resta relaxar e gozar.

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Perdoái-os, senhor; eles sabem o que fazem. Se estamos convencidos da condição ?sine qua non? para desobstruir o trânsito, pelo menos nos deixem sugerir exemplos de como o estorvo do Batel – pracinha que abriga uma banca de jornais, duas floriculturas e algumas valentes árvores – seria resolvido em outros países:

Nos Estados Unidos – ao feitio de W. Bush – o império passaria por cima, e embaixo do viaduto construiriam um shopping center.

Na Alemanha, com toda a sensibilidade do pós-guerra, passariam por baixo, e dedicariam todo o entorno da pracinha para uma área gastronômica.

Na Itália, seria mais complicado. Depois de anos discutindo o assunto, também os italianos abririam um túnel. Porém, no início das escavações as obras seriam suspensas em função da descoberta de mais um anfiteatro romano. Ou uma monstruosa catacumba.

Na Espanha, o buraco seria mais embaixo: o povo sairia às ruas para reivindicar a praça como marco zero da República Independente do Batel.

Na França, as árvores seriam tombadas pelo patrimônio histórico, chamariam um arquiteto japonês para redesenhar as duas floriculturas, a banca de revista seria ampliada e, não contente, o prefeito de Paris mandaria fazer uma praia na Avenida Batel.

Na Holanda, não só preservariam as duas floriculturas, como abririam concorrência para construir outras duas. No lugar da banca de revista seria um bar, que venderia inclusive revistas, e a pista de automóvel daria lugar a uma ciclovia.

Os mexicanos seriam mais práticos. Destruir a praça daria muito trabalho, aproveitariam as duas árvores para o povo das redondezas tirar la siesta.

Em Portugal, ninguém é tão burro para jogar fora uma praça. Bem lembrou o publicitário e poeta Ewaldo Schleder: ?Imagine demolir as Arcadas de Lisboa para poder ligar o Chiado à Alfama, por exemplo. Se fosse pra ser, o Marquês de Pombal já o teria feito ao reconstruir a capital lusa depois do terremoto de 1780?.

Tamanho não é documento, da minúscula Pracinha do Batel os japoneses fariam um Jardim Botânico.

Na Rússia, uma praça partida ao meio seria vermelha. Vermelha de vergonha.

Na Argentina, a Praça do Batel teria o destino da Plaza de Mayo, com as enfurecidas viúvas de Jaime Lerner desfilando na Avenida Batel.

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Alea jacta est! Defender uma pracinha só serve para gastar o latim. Delenda Batel!