Década da inspiração

De 1992 para cá, onde se vê um prédio histórico restaurado, um projeto arquitetônico que recicla o uso de construções que estão no coração dos curitibanos, sempre está lá a presença da Dóris Regina Teixeira. Arquiteta, aprendeu a decifrar a cidade pelo alfabeto que aperfeiçoou com estudos e projetos em Paris. A última da Dóris, junto com Maria Luiza Baracho e Marcelo Sutil, é a exposição de Curitiba nos anos 1950, no Memorial de Curitiba. Estão lá o jeito e a vida da cidade naqueles anos dourados de fim de guerra, auge da riqueza do café, Bento Munhoz da Rocha Netto e o centenário do Paraná, casas com jardins, sem grades, bailes e moças em trajes de gala, os eletrodomésticos moderníssimos e os ecos de um Brasil de Juscelino, Niemeyer, Brasília e Bossa Nova.

– Nos anos 50 fomos felizes com Oscar Niemeyer, a Copa do Mundo da Suécia e a Bossa Nova. A que se deve tanta inspiração e autoestima naqueles anos dourados?
Dóris – Final da guerra, a esperança de um mundo melhor, as boas safras de café rendendo frutos e animando a celebração do Centenário do Paraná, que fez com que muitas obras tivessem início nesse período. Boas obras, diga-se de passagem, é o início de uma época que virou referência na arquitetura moderna de Curitiba, com o Teatro Guaíra, o Jockey, a Biblioteca Pública e o Palácio Iguaçu, entre outras. 

– Nesse aspecto, o que Curitiba tinha de melhor naqueles anos?
A gentileza, a tranquilidade e a segurança de uma Cidade em desenvolvimento, alegre com seu crescimento e abraçando a ‘modernidade’.

– Ambos governantes naquela década tão espirituosa, haveria alguma relação entre Juscelino Kubitschek e Bento Munhoz da Rocha?
Além da Bossa Nova, a vontade de realizar um trabalho, deixar uma marca, fazer e acontecer, no que os dois conseguiram, não cansaram de ser modernos e são eternos – citando Drummond.

– Do que restou, o que ainda temos de melhor da Curitiba dos anos 1950?
Ah, várias pessoas geniais, como o Ary Fontoura, o Dalton Trevisan, o Ney Souza que gentilmente permitiram a inclusão de seus textos na exposição, o Beppi que emprestou suas fotos, as conversas com a Eugenia da Cocaco, enfim as pessoas que fizeram a Curitiba naquela época e continuam nos norteando.

– Do que se foi, o que traria de volta para o presente?
A Cinelândia, com o burburinho na rua XV entre as sessões e seus letreiros em neons, a opção do cinema de rua.

– Seria possível restaurar alguma coisa daqueles anos?
É até anterior, mas o Teatro Hauer, transformá-lo em Cine teatro Municipal, um sonho meu, ou delírio.

– Se fosse lhe dada uma chave do passado, em qual porta dos 50 você entraria?
A chave do Teatro Salvador de Ferrante, o Guairinha, no dia da estreia da peça “Vivendo em Pecado”, de Terence Rattigan, com a companhia Dulcina, primeira peça no Teatro, imagina a energia boa do momento! Bem, e na saída a chave da porta da Livraria Ghignone, com seus espelhos e mistérios.