Quando o calor é tanto que até os homens perdem o pudor e, na falta de ventilador nas boas casas do ramo, passam a se abanar com os leques da vovó, a gente antiga de Curitiba levanta os olhos para o céu do Parque Barigui, na direção de Campo Largo, rumo de Ponta Grossa. Naquela nesga de hemisfério se localiza o que os antigos chamam de “Buraco da Velha”. Se as nuvens daquele canto escurecem, é tempestade da grossa e o mundo vem abaixo. O “Buraco da Velha” inunda os bairros, vilas se enchem de lama e a prefeitura declara calamidade pública.

continua após a publicidade

Vem de longe os augúrios do Buraco da Velha, uma história que pode, como não pode, ser verdade. Maria Delacruz, a Marica, era o nome da velha nascida em Campo Largo da Piedade. Órfã de pai e mãe, a pequena Marica passou a viver no lombo do burro, vendendo em Curitiba o que a terra produzia. E foi numa dessas viagens que certo dia a moça foi violentada pelo filho de um rico coronel. Traumatizada, Marica passou a viver numa caverna onde nascia uma fonte de água mineral. Foi naquela gruta, entre as quaresmeiras, que nasceu a lenda do “Buraco da Velha”, de onde Curitiba divisa raios e tempestades.

Sinhá Marica nunca mais atravessou a ponte do Barigui. Passou o restante de sua anosa existência em Campo Largo da Piedade, reclusa na gruta das quaresmeiras, de onde lança as nuvens que escurecem o Parque Barigui. Águas podres inundam os bairros, vilas se enchem de lama e a Prefeitura de Curitiba declara calamidade pública.

Numa dessas inundações, o ex-prefeito Rafael Greca de Macedo deixou uma frase para a história. Ao inspecionar os estragos causados pelos rios e riachos entupidos de pneus velhos, sofás e poltronas, geladeiras enferrujadas e armários, Greca subiu num barranco e, apontando o dedo para o povo em volta, ensinou:

continua após a publicidade

– Rio não caga!

E no dia seguinte o jornal O Estado do Paraná imprimiu a manchete que deixou a cidade envergonhada de si mesma: 

continua após a publicidade

– Curitiba joga merda na água que bebe!