Danos colaterais

No bombardeio que atingiu o hospital da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), no Afeganistão, os Estados Unidos reconheceram que o ataque aéreo pode ter causado “danos colaterais”. Diz-se que na guerra a primeira vítima é a verdade. E o maior aliado da inverdade é a semântica, sempre a serviço dos vencedores, como na estarrecedora chacina que abalou os confins do planeta.

Danos colaterais, não há como negar, foi um brilhante achado de comunicação do Pentágono. Um recurso semântico de uso genérico, servível para explicar o inexplicável e justificar todos os meios para se atingir qualquer objetivo. É a semântica a serviço da desinformação, tanto dos governos de direita quanto de esquerda. No caso, só falta Luiz Inácio Lula da Silva dizer que a crise do governo Dilma Rousseff surgiu graças aos danos colaterais da operação Lava Jato.

No final do século passado, eu publicava diariamente no jornal O Estado do Paraná uma história em quadrinhos chamada “Press Release”, conforme o apresentou na época o jornalista Aramis Millarch: “O novo personagem é um repórter com espírito de assessor de imprensa, que dá sua própria interpretação aos fatos, na tentativa de manter o otimismo, por piores que possam ser os acontecimentos. Espírito de assessor de imprensa porque a maioria dos assessores tenta, ao interpretar um fato, dar sempre uma visão positiva. Uma pessoa que tenta aproximar os órgãos públicos da população, por meio de análises sutis e de detalhes que tomam o primeiro plano. Se os leitores não sabem o que se passa no palco de uma redação de jornal, que tem um repórter com espírito de assessor de imprensa, passarão a saber por meio das situações que serão apresentadas pelo “Press Release” de Dante Mendonça”.

Quase quarenta anos depois, muitas vezes me ocorre de ressuscitar o “Press Release” para tentar explicar o caos político que estamos vivendo. Ou desenhar, porque com certas renitências só mesmo desenhando para se fazer entender.

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