Curitibano fora da casinha

A uma semana de abrirem as comportas da folia no reino de Sua Majestade o Imperador Macunaíma – o primeiro e único a usufruir do direito à preguiça concedida por Deus aos Príncipes do Ócio – mesmo sem vontade, Curitiba larga aos poucos o trabalho para se entregar aos braços da luxúria. De hoje até a próxima sexta-feira, como ondas do mar escorrendo serra abaixo, as pessoas se retiram de Curitiba; mas nada retira Curitiba das pessoas.

Um pinheiro não se transplanta!, dizia Paulo Leminski ancorado às margens do rio Tietê, pronto a levantar as velas da paulicéia desvairada no incessante retorno do poeta ao Pilarzinho.

Curitibano é tartaruga: para onde vai, leva a casa nas costas. Se na Bahia fizer sol, chuva, frio e calor, tudo no mesmo dia, melhor não seria. Para remediar a ressaca numa manhã de Carnaval, o pierrô curitibano sai bem agasalhado e se despe ao longo do dia. Mesmo num sábado de Carnaval, é hoje o dia para lavar e polir o carro. Nem que chova canivete.

Com legítimo sotaque leitE quentE, sabe como se faz para reconhecer um curitibano numa livraria do Rio de Janeiro? Ele é o que pede o mapa-mundi de Curitiba.

O escritor Manoel Carlos Karam foi quem mais alimentou o folclore leitE quentE e ensinava como identificar um curitibano fora da casinha:

Se o cidadão em Matinhos está tomando banho de mar com sabonete e toalha, sempre aparece alguém dizendo:

– É de Curitiba!

– Se a madame recebe as amigas à beira do mar em Caiobá com a criadagem uniformizada:

– É de Curitiba!

Quando um menino de dez anos de idade aparece dirigindo um Monza nas Gaivotas:

– É de Curitiba!

Um senhor cortando o ralo cabelo numa barbearia de Guaratuba enquanto lê o Diário Oficial:

– É de Curitiba!

O sujeito senta sozinho no bar com vista para o mar de Matinhos, pede meia dúzia de Brahma e passa o dia bebendo e cantando Trem das Onze:

– É de Curitiba!

E se abordar a garota que leva um cachorrinho na coleira pedindo o número do telefone do cachorrinho:

– É de Curitiba!

Tem mais uma coisa. Em todos os casos, essa figura que aponta e repete: – É de Curitiba – , não tenham dúvidas:

– É de Curitiba!

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Oh! Quanto riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão! O verdadeiro folião curitibano ri de si mesmo ao perceber que a fantasia é a mais pura verdade!

E quando o bom filho de Curitiba à casa torna, em qualquer circunstância cabe a justificativa:

– Fui embora pra São Paulo porque gosto de voltar voando para casa!