Curitiba turística

Sempre na frente, dando exemplos para o mundo, Curitiba também pode servir de modelo na área de turismo. Pena que certas propostas, nascidas aqui, aqui não prosperem. Um dos exemplos é acabar com o desfile das Escolas de Samba, fazendo da cidade um retiro espiritual para os desafetos do Momo.

Florianópolis não deixou a passar a ideia e este ano, pela primeira vez na sua história, cancelou o desfile das cinco agremiações na Passarela Nego Quirido. “Silenciaram o tamborim, calaram a cuíca e o chocalho. Apagaram a alegria e a felicidade. O povo, incrédulo, assiste mais um sonho terminar”, chorou o presidente da Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (Liesf), Zeca Machado.

Não é nada, não é nada, mas esta deserção de Florianópolis vem em nosso favor: se antes fazíamos o mais desanimado Carnaval do Brasil, agora já não estamos tão sozinhos a desfilar no bloco do chororô.

Temos vários exemplos de destinos turísticos inovadores que encantam nossos visitantes, dentre os quais a Rua 24 Horas (com relógio único no mundo em que o ponteiro só trabalha meio expediente), a Boca Maldita (naquele templo da maledicência surgiu o costume curitibano de elogiar pelas costas) e as garagens da cidade onde nasce a cada dia uma nova banda de rock.

Não se sabe do prefeito Gustavo Fruet quais os seus planos para o turismo. Até porque, na campanha eleitoral, todos diziam que ele estava percorrendo a cidade apenas como turista. O que se sabe é que, acidentalmente, a Avenida Bispo Dom José entrou para o roteiro turístico de Curitiba. Tanto que corremos o risco de algum passageiro sequestrar o ônibus da Linha Turismo: “Toca para a rua do granito!”.

Deus não favoreceu com dedinho a paisagem de Curitiba. Todas as consagradas atrações turísticas são de origem administrativa. A começar pelo Parque Barigui, que nasceu de uma prancheta. A calçada de granito é mais um exemplo de que podemos tirar proveito de nossas deficiências. Quem diria, antes tão execradas, graças a um exagero de projeto as nossas calçadas viraram coqueluche turística. A partir deste equívoco, portanto, podemos visitar a cidade conforme o revestimento das calçadas: granito no Batel, mármore no Centro Cívico, petit pavet na Rua das Flores, pedra no Setor Histórico, asfalto nos bairros e barro na periferia.

Não são poucas as nossas deficiências que, bem administradas, podem render benefícios turísticos. Essa temperatura de janeiro, principalmente, deveria ganhar divulgação internacional: somos uma das raras cidades no mundo com o verão refrigerado.