Curitiba, a quente

Quando os termômetros de Curitiba marcam temperaturas entre 33 e 35 graus, com uma margem de erro de três graus para mais ou para menos, em qualquer outra cidade as pessoas estariam vivendo sob uma forte temperatura. Menos aqui. Em Curitiba, sofremos o calor dos infernos. Isso demonstra que o nosso admirado planejamento urbano é uma falácia: Curitiba, a fria, não foi planejada para o verão. Só para o longo e tenebroso inverno. No verão, é a capital do Senegal habitada pelo povo da Noruega. Além do calor, o que preocupa são os temporais no final de tarde. Na saída do trabalho, quando o aguaceiro pega o curitibano desprevenido e sem guarda-chuva. Se Curitiba não foi planejada para o verão, muito menos para as chuvas de verão. Nossos dias de sol são raros. Raríssimos. Mas nos dias de céu azul a canícula é tanta que, alguns anos atrás, três exposições fotográficas numa mesma semana mostravam pessoas nuas. O resultado é que o público entrava nas galerias só para desfrutar da descontração dos modelos fotográficos. Naquelas alturas do termômetro, gente sem roupa era um refresco para os olhos. Para quem não tem piscina, pimenta é refrigério. Nos dias de temperaturas senegalescas, a classe média entope o shopping em busca do ar condicionado, coisa rara na configuração doméstica desta cidade de primeiro mundo. Em qualquer estação do ano, a classe média está mais acostumada com os tradicionais leques, muito úteis para abanar a família na chegada do extrato de cartão de crédito. No centro de Curitiba, a noite é uma criança cheirando cola com um revólver na mão. Nas ruas centrais, os melhores passeios noturnos para a família curitibana fugir do calor são entrar numa grande fria. Pena que prestar queixa na polícia é um programa desconfortável, as delegacias especializadas não possuem refrigeração central. Com o verão à vista, todas as ruas de Curitiba passam a ter mão única em direção ao mar. Só restam na cidade os que trafegam na contramão do cheque especial.