Curitiba, a lépida

Somos a capital dos ligeirinhos: ônibus ligeirinhos, pedestres ligeirinhos. Pesquisa realizada pelo British Council apontou Curitiba como a sexta cidade do mundo, entre 32 cidades pesquisadas, onde os pedestres andam mais rápido.

Ao analisar a pesquisa da Universidade de Hertfordshire, diria o presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PDT, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, naquela sua forma simples e sincera de ser: ?Vamos falar a verdade, isso é coisa de veado?.

Os pesquisadores não mediram a velocidade dos veados – cervídeos, em geral muito tímidos e velozes – na Rua das Flores, como só poderia deduzir o tosco presidente da Força Sindical, um deputado federal que é bem capaz de confundir pedestres com pederastas.

Nas cidades pesquisadas, mediram, à distância, o ritmo de 35 pedestres, caminhando em uma calçada de rua movimentada, larga, nivelada, livre de obstáculos e suficientemente vazia para que as pessoas pudessem andar na sua velocidade máxima.

Curitiba ficou em sexto lugar no mundo. À frente de Berlim, Nova York, Utrecht e Viena. Só ficou atrás, por ordem de chegada, de Cingapura, Copenhague, Madri, Guangzhou (China) e Dublin, a quinta colocada. Pelos critérios do professor Richard Wisemann, o coordenador da pesquisa, felizmente os baianos não foram observados subindo a Ladeira do Pelourinho. Salvador, para vergonha do Brasil, ficaria com a lanterna da competição. Se em Curitiba o tempo médio dos pedestres avaliados foi de 11,13 segundos para percorrer 18,3 metros, na capital baiana a média seria equivalente a um Dorival Caymmi andando.

Nas cidades de Campinas, Laguna e Pelotas não foi aferida a velocidade dos pedestres. Menos mal. Dois motivos a menos para o deputado Paulinho não considerar áreas para pedestres como coisa de veado.

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O que intriga nessa pesquisa de velocidade urbana é que, em pelo menos dois quesitos – rua nivelada e livre de obstáculos -, o nosso desempenho foi prejudicado: o petit-pavê da Rua das Flores é dificultoso para qualquer pedestre velocista e se não fossem os obstáculos e barreiras do mobiliário urbano, os pedestres de Curitiba estariam agora no calcanhar de Cingapura, a campeã.

Numa outra falha dos pesquisadores ingleses, a pesquisa deixou de divulgar os nomes dos 35 curitibanos observados em suas andanças pela cidade. Quem seriam eles? Conforme o perfil destes maratonistas urbanos, isso faria uma grande diferença. Fosse um deles o escritor Dalton Trevisan, ganharíamos alguns segundos. Quem já mediu a velocidade, descendo a Rua XV de Novembro, pode comprovar que o Vampiro de Curitiba tem uma marca melhor que o pedestre de Madri (10,89s), superior ao de Copenhague (10,82s), perdendo por um pescoço para o campeão mundial de Cingapura (10,55). Em nosso desfavor, contamos com pedestres que lembram o saudoso Poty Lazzarotto. Sem nenhum exagero, o nosso grande pintor e desenhista, com aqueles seu passos plácidos, levava uma eternidade para cruzar a Rua das Flores, entre um pernil com verde no Bar Triângulo e uma torta na Confeitaria das Famílias.

De qualquer forma, e apesar do péssimo estado das calçadas, palmas para os nossos 35 maratonistas urbanos desconhecidos.

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Curitiba se dizia uma Cidade Sorriso. Agora somos uma urbe lépida, composição do risonho, jovial e alegre com o ligeiro, lesto e ágil.

Curitiba, a lépida!