Cueca de pano versus cueca de seda

Diz o dito popular que quem parte e reparte e não tira a melhor parte, ou é burro ou não tem arte. E assim os rejeitados nas urnas aproveitaram o Dia de Santa Edwiges para negociar dívidas com algum lucro, enquanto as duas facções vencedoras tratam de atrair os derrotados.

Passando a régua nesse quem é quem, nos resta uma rançosa sensação de que já vimos esse filme de mocinho e bandido. Ou seja, querem nos impor a velha tática eleitoreira do maniqueísmo de arquibancada. De um lado Gustavo Fruet e Jaime Lerner, representando o centro da cidade. De outro Ratinho Junior e Roberto Requião, representando o bairro.

Maniqueísmo de adolescente, podemos dizer, mas ao que tudo indica querem idiotizar o debate. Jaime Lerner versus Requião; Centro versus Bairro; como se fossemos uma manada de estúpidos a ser conduzida de um lado e de outro. Dizia o poeta alemão Friedrich Schiller: “Contra a estupidez humana até os deuses lutam em vão”. E estúpidos não nos faltam, principalmente os ilustres estúpidos de casca grossa.  

Por várias décadas Curitiba já padeceu com o discurso dos estúpidos que ainda insistem em dividir a cidade entre os de cueca de pano e os de cueca de seda. Em meio àquela jurássica discussão dos anos 70/80 (quando a Cidade Industrial de Curitiba era considerada um campo de golfe de gringos milionários), uma das poucas vozes sensatas era do arquiteto Rafael Dely. A exemplo de Jaime Lerner, Rafael Dely não tinha doutorado em palanques. Mesmo não sendo orador, Dely sabia discursar em favor dos seus projetos e do grupo que então desenhava a cidade com todas as suas tonalidades. O confronto entre o centro e o bairro seria “desconhecer, consciente ou inconscientemente, o que foi feito nesta cidade. Todas as obras de vulto, que projetaram Curitiba internacionalmente como modelo de planejamento, nada ou muito pouco têm a ver com o centro. As avenidas estruturais com o trinário desenvolvem-se totalmente nos bairros; o ônibus expresso, os parques, os interbairros, a Cidade Industrial são obras que beneficiaram tão somente os bairros de Curitiba”. 

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Muitos investem na política porque apostam na ignorância como o maior patrimônio da nação. Nessa polêmica entre a cueca de pano e a cueca de seda, o eleitor que se cuide para não ficar com o fiofó de fora.