Cozinheiro, mágico e sacerdote

No Supermercado Contemporâneo – rede varejista que depois da globalização abriu suas portas em cada esquina -, são muitos os produtos em falta nas prateleiras. Entre eles os de primeira necessidade, como o Bom Senso; a Generosidade; a Cordialidade; a Simpatia; a Sinceridade; a Bondade; a Persistência; a Coerência; a Honestidade e, principalmente, o Bom Humor líquido e certo. Até a Ingenuidade em pequenas doses, antes encontradiça em qualquer armazém de Bom Caráter, atualmente não é tão fácil de obter nas gôndolas do Supermercado Contemporâneo.

Luiz Alfredo Malucelli – o doce curitibano que ontem nos deixou -, era um confeiteiro de almas, do tempo em que as palavras cozinheiro e sacerdote vinham do grego “mageiro”, cuja raiz era a mesma de “magia”. Era um encantador italiano que fazia mágicas na cozinha para agregar amigos. De tanto fazer de sua vocação gregária um sacerdócio, nos últimos anos estava cada dia mais desanimado com as lidas da Goiabada, do Barreado e da Generosidade. Estava difícil de encontrar seus ingredientes favoritos no Supermercado Contemporâneo. Um dia tinha quilos e quilos de simpatia, mas faltava o fundamental complemento: a sinceridade.

Nascido em Morretes e transplantado com raiz e tudo para Curitiba, Malu – como era reconhecido nos quatros cantos da cidade – podia ser comparado a uma biruta. Não um total biruta – que de louquinho ele tinha um pouco -, mas o publicitário que sentia na ponta do dedo a direção em que os ventos da opinião pública sopravam. Ou, como um termômetro, tinha a noção exata de como e quando o clima político poderia esquentar. “Era um curitibano capaz de cerrar baterias em favor de uma boa causa – escreveu o jornalista Aroldo Murá – ou na condenação de outra; e nisso mostrava-se um advogado inigualável”. Exemplar defensor da “causa do santo”, excelente advogado da “causa do Diabo” – observava um seu velho companheiro dos tempos de Diretor Comercial da Rede Globo no Paraná (o velho Canal 12 do Castelo do Batel), quando criou o Clube do Copinho, uma reunião semanal com clientes e publicitários em torno da boa mesa.

Nascido em 20 de abril de 1934, filho de Alfredo e Lourdes Moro Malucelli, vinha de uma família de oito irmãos. Cinco mulheres e três homens. Com seu espírito curioso de piá curitibano – daí seu faro de jornalista -, Malu era um exímio conhecedor dos pontos de encontros e desencontros da cidade, como o extinto Café Alvorada da Rua XV, com sua “pedra” que anunciava os falecimentos do dia. Fosse agora, estaria escrito na “pedra” do café: “As histórias e receitas da Coluna do Malu agora só na Biblioteca Pública”.