Coxa esperança

Como dizia Dadá Maravilha, o filósofo que já orgulhou a camisa do Coritiba em 1983, “para toda problemática há uma solucionática”. Traduzindo para o idioma da autoajuda, serve de esperança para a torcida coxa-branca: por mais difícil que seja uma situação, é preciso acreditar até o último momento.

É possível virar o jogo aos 46 minutos do segundo tempo, como aconteceu no último Atletiba, quando a esperança já se retirava do estádio. Não desista, não entregue os pontos, não se deixe derrotar, saiba que para qualquer problema há sempre uma saída. A impossibilidade é uma condição momentânea, prega o rabino Nilton Bonder, ao relatar no livro O segredo judaico de resolução de problemas um julgamento semelhante ao de hoje, quando provavelmente o Coritiba Foot Ball Club será imolado como exemplo para a opinião pública. Vai servir de “bode respiratório”, diria o filósofo de chuteiras.

Conta Nilton Bonder de um incidente durante a Idade Média em que uma criança de um lugarejo foi encontrada morta. Imediatamente acusaram um judeu de ter sido o assassino e alegou-se que a vítima fora usada para a realização de rituais macabros. O homem foi preso e ficou desesperado. Sabia que era um bode expiatório e que não teria a menor chance em seu julgamento. Pediu então que trouxessem um rabino com quem pudesse conversar. E assim foi feito.

Ao rabino lamuriou-se, inconsolável pela pena de morte que o aguardava; tinha certeza de que fariam tudo para executá-lo. O rabino o acalmou e disse:

– Em nenhum momento acredite que não há solução. Quem tentará você a agir assim é o próprio Sinistro, que quer que você se entregue à ideia de
que não há saída.

– Mas o que devo fazer?, perguntou o homem angustiado.

– Não desista e lhe será mostrado um caminho inimaginável.

Chegado o dia do julgamento, o juiz, mancomunado com a conspiração para condenar o pobre homem, quis ainda assim fingir que lhe permitiria um julgamento justo e uma oportunidade para que demonstrasse sua inocência. Chamou-o e disse:

– Já que vocês são pessoas de fé, vou deixar que o Senhor cuide desta questão: vou escrever num pedaço de papel a palavra “inocente” e em outro “culpado”. Você escolherá um dos dois e o Senhor decidirá seu destino.

O acusado começou a suar frio, sabendo que aquilo não passava de uma encenação e que iriam condená-lo de qualquer maneira. E tal qual previra, o juiz preparou dois pedaços de papel que continham ambos a inscrição “culpado”. Normalmente se diria que as chances de nosso acusado acabam de cair 50% para rigorosamente 0%. Não havia nenhuma chance estatística de que ele viesse a retirar o papel contendo a inscrição “inocente”, pois o mesmo não existia.

Lembrando-se das palavras do rabino, o acusado meditou por alguns instantes e, com o brilho nos olhos, avançou por sobre os papéis, escolheu um deles e imediatamente o engoliu. Todos os presentes protestaram:

– O que você fez? Como vamos saber agora qual o destino que lhe cabia?

Mais que prontamente, o acusado respondeu:

– É simples. Basta olhar o que diz o outro papel e saberemos que escolhi seu contrário.

***

Descobrimos então, nos leva a refletir o julgamento, que a chance de 0% era verdadeira apenas para os limites impostos para uma dada situação. Com um pouco da sagacidade da necessidade, foi possível recriar um contexto onde as chances do acusado de superar a adversidade saltaram de 0% para 100%. Ou seja, a simples recontextualização da mesma situação permitiu a reviravolta da realidade.

A lição de esperança do rabino Nilton Bonder é que nenhuma outra postura é tão instigadora de criatividade e intuição quanto o “não saber desistir”. Criatividade e intuição que hoje estão nas mãos dos advogados Júlio Botto e Gustavo Nadalin, liderados pelo professor René Dotti.

Ao mestre e seus discípulos, boa sorte. Aos coxas, que não joguem a toalha!