Correspondências

No bar, doce lar, o balcão não tem serventia apenas para o cotovelo. Tem uma outra função, das tantas, usufruída por poucos: o correio de botequim.

Num balcão de bar, já recebi boas e más notícias, sempre com o remetente de corpo presente. Pelo Sedex, em meu nome, com o endereço do boteco de estimação, foi a vez primeira. Dentro do envelope pardo, um livro e um bilhete do escritor Sérgio da Costa Ramos, colunista do Diário Catarinense, ?a melhor revelação de cronista brasileiro na última década? – diz o escritor Deonísio da Silva, assina embaixo Luis Fernando Veríssimo.

Dizia o bilhete: ?Pois acho que inauguramos essa nova modalidade, ?da qual antes jamais se teve notícia neste País. O Correio de Botequim??.

?RAPsódias do mundo bin (ou, não confie nem no carteiro)? é o livro onde o cronista se transforma em autor de raps, cujos versos deveriam ser declamados do alto de uma mesa de botequim, como se ali fosse o púlpito de um país indignado e, ainda assim, não destituído de bom humor.

Sérgio da Costa Ramos não se considera um humorista. Humoristas são os políticos e ?a eles vamos ficar devendo os direitos autorais? – deste ?Rap da classe média?, por exemplo, de onde retirei alguns versos, por força destes 3.500 caracteres a mim concedidos.

Nem Freud, nem Marx, ninguém explica / A classe média perder a luva, a pelica / Virar pobre, assim da noite pro dia / Suspeita-se de um mal real: anemia. / Ou é caso de escândalo explícito / Nome certo de empobrecimento ilícito.

Classe órfão, sem herói, nem glória / Quem lutou por ela ao longo da história? / Gente média, medíocre, mediana, honesta / Que sempre acaba barrada na festa / Falta-lhe um sol, um líder, um teórico / Um discurso que não seja teórico.

Fica ali, espremida entre três estratos / Os excluídos, os pobres, os ricaços / Ninguém se dá conta de sua existência / E ela ainda paga imposto-sobrevivência / Enganada, mais que isso, estuprada / Particípio passado de coito, ?coitada?.

Motivo não falta: é plano todo ano / O governo é sérvio, a gente, muçulmano / É Bresser, Verão, Cruzado, Cruzeiro / É Collor, é todo o tipo de dinheiro / E a classe, ó – sem choro nem pitanga: / Atravessou a todos, só vestindo tanga.

O senhor aí na Bélgica, presidente, / E a gente aqui na Índia, simplesmente. / A classe média anda triste, infeliz / Todos concordam, não sou eu quem diz / Esperamos socorro do Zarur e de sua sopa / ou trabalhar na Renault, de macacão e estopa.  

Carta de Júlia

?Olá, Dante. Quem escreve é Julia, filha caçula de Rafael Dely.

Recebi agora há pouco um e-mail que encaminhava sua carta destinada ao meu pai, publicada hoje no Jornal O Estado do Paraná. Enquanto lia, senti que estava sentada numa mesa, tomando um vinho, ao lado de meu pai e de seus amigos, Jaime Lerner, Ceneviva, Aroldo Murá, e tantos outros que me vieram à cabeça. Todos conversavam e discutiam num clima bem-humorado sobre os locais escolhidos para levar seu nome. Muitas risadas. Meu pai observava tudo com um sorriso tipicamente seu, um sorriso maroto. Ele estava sereno e feliz por estar ali com todos.

Obrigada Dante. Hoje, ao acordar e ler sua carta, ganhei de presente esta experiência que por um momento me pareceu tão real. E matei minhas saudades por um instante…

Eu e meus irmãos, Alexandre e Paula, não estávamos sabendo de tais idéias que estavam a circular pelo meio, muito menos do decreto de Julieta Reis. Ficamos contentes e confiantes que um local especial será escolhido.

Um abraço grande, Julia Dely?.