Agora em cartaz no Grande Auditório do Teatro Celestial, nesse final de março teremos da atriz Lala Schneider merecidas lembranças. Dia 26, no Shopping Curitiba, a exposição “5 anos de saudade”. E no dia 31 será inaugurado um monumento à nossa grande dama (de Alfi Vivern e Maria Inês de Bella) na Praça Santos Andrade, em frente ao Teatro Guaíra, nas proximidades do cenário onde Lala interpretou um dos seus maiores papéis cômicos na vida real, na esquina do Guairinha com a Rua XV de Novembro.

continua após a publicidade

Era fevereiro de 1980, véspera de estreia da peça “Drácula”, no Auditório Salvador de Ferrante, o Guairinha. Lala Schneider interpretava Edvirge, a governanta. Ariel Coelho, que fora do palco já era o próprio, fazia o papel de Conde Drácula. Luiz Mello apavorava como Dr. Frankenstein. Emílio Pitta criou perfeito corcunda chamado Simon, o cocheiro. Odelair Rodrigues era a cozinheira, Sansores França, o mordomo. Ivone Hoffmann era a copeira Aurora, Gina Pigozzi era a arrumadeira Sybill – duas gracinhas com dois pescoços que fariam a felicidade de qualquer vampiro de Curitiba. Antônio Carlos Kraide assinava a direção; Beto Bruel a iluminação; cenários de Fernando Marés e Paulo Maia; os figurinos, de Luiz Afonso Burigo.

Lala Schneider tinha então um Volkswagen TL verde. Naquela noite de ensaio geral de figurinos e maquiagens, a grande dama estacionou o TL na esquina do teatro e foi para os camarins, já preparada para a jornada noite adentro.

Era bem madrugada quando o guardião interrompeu o beijo do Drácula aos gritos:

Corre, Lala, corre que um Fusca desgovernado destruiu o teu carro!

Foi uma correria. Solidários, todos do elenco dispararam do palco em direção à esquina do teatro: a governanta Edvirge à frente, o Conde Drácula atrás e o terrível Dr. Frankenstein seguido pelo tétrico mordomo. Fazendo fileira, esbaforidas, a copeira, a cozinheira e a arrumadeira. Emílio Pitta, o corcunda que babava pelo canto da boca, foi o último a chegar junto ao Fusca afundado na lateral do TL verde de Lala Schneider.

Foi uma coisa medonha.

A arrumadeira Edvirge, com as mãos na cabeça, não acreditava no que estava vendo. Muito menos o motorista, cercado pelo Conde Drácula, o Dr. Frankenstein, um mordomo assassino, três domésticas histéricas e aquele baixinho corcunda que lhe pedia os documentos.

Completamente aterrorizado, o motorista se escafedeu em direção ao Passeio Público e nunca mais foi visto. O TL verde de Lala Schneider virou personagem de uma das mais inesquecíveis cenas do teatro paranaense, fora do palco.

continua após a publicidade