Muito se elogia, pelo mundo afora, o transporte urbano de Curitiba. Muito se critica, principalmente durante as campanhas eleitorais, os nossos ônibus expressos. Nesta temporada de caça, poucos ouvem os criadores do sistema que ainda orgulha os curitibanos. Por que o Expresso é vermelho? Perguntem ao arquiteto Lauro Tomizawa.

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Quando Lauro Tomizawa chegou em Curitiba, onde se formou em 1971, as cores da frota municipal eram verde e amarelo. Talvez uma programação visual inspirada no “Brasil ame-o ou deixe-o” dos tempos da ditadura. Em 1973 ingressou no Ippuc, tendo atuado na coordenação de comunicação visual, mobiliário urbano e na sinalização viária e de transporte. Foi responsável, sobretudo, pelos projetos dos veículos de transporte urbano: Expresso, Articulado, Interbairros, Estudantes, Circular Centro, Linha Direta, Linha do Ofício e Sopão.

Quando Lauro veio a ocupar uma das pranchetas do Ippuc, o presidente era Rafael Dely. Foi trabalhar direto no assunto que estava começando a estourar na época, o ônibus expresso. E botaram a “mão na graxa”: do projeto em andamento, modificaram todo o layout da parte interna e revolucionaram totalmente os ônibus.

Porque o ônibus Expresso tem a cor vermelha? A resposta está numa das preciosas edições da coleção Memória da Curitiba Urbana, editada em 1991. Conta o arquiteto Lauro Tomizawa: “O Rafael Dely tinha ido para Londres e já conhecia a Red Line e a Green Line. Começamos a discutir e fizemos a separação de cores, resolvemos estruturar o sistema de transporte através da cor. A identificação vermelha ficou para o ônibus expresso. Adotamos o sistema inglês. Nessa época os fabricantes de veículos não tinham muitas opções de cores, então escolhemos o vermelho-mate, que era uma cor escura que a linha já tinha, mas que não era o ideal”.

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“Ninguém esperava um ônibus com uma canaleta exclusiva, a população não estava acostumada com aquela linha especial, diferente. A imprensa chamou o ônibus de atleticano; desceu a lenha. O pessoal do Ippuc ficava preocupado, tentava explicar porque escolheu o vermelho. Depois reservamos a cor verde para os Interbairros. Nós realmente utilizamos a Red Line e a Green Line. O amarelo veio do desmembramento do verde e do amarelo e ficou sendo a cor do ônibus convencional.”

Nascido em Pereira Barreto (SP), Lauro Tomizawa faz uma leitura muito especial da cidade que adotou: “Eu acho que quando Curitiba introduziu o ônibus Expresso, as canaletas, o Plano Diretor de Zoneamento, foi a revolução até cultural da cidade. Foi a virada do século para mim. Porque a gente fez a toque de caixa, aqui no joelho. Eu ia corrigindo o tempo dos semáforos ali no relógio, medindo o tempo e modificando. Depois daquela virada do ônibus Expresso, a população tinha aceitado a as modificações. Curitiba tem uma população diferente da de São Paulo, por exemplo, a não ser com relação aos últimos anos, que houve muita migração. Este pessoal mora na periferia da cidade e ainda não tem afinidade histórica e cultural com a cidade. Para eles parece indiferente, dá a impressão que é indiferente. Quando você tem uma história, você tenta preservar. Pode ver, as pessoas antigas, elas tentam preservar aquilo que foi. Eu acredito que agora (91) essa população deve estar criando um pouquinho mais de afeto pelas coisas da cidade”.

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Ao lado de tantos outros arquitetos do Ippuc que revolucionaram Curitiba, Lauro é um urbanista suspeito de privilegiar o centro. Para isso, ele também responde: “O programa social foi levado com força total. Essa tentativa de dizer que se trabalhava muito com o centro. Como com o centro, se o sistema expresso cobria toda a Curitiba? E o Interbairros? É um transporte voltado totalmente para os bairros! E quem usa o centro hoje é a população como um todo”.

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Curitiba, fria e cinza, ganhou de Lauro Tomizawa as novas cores de sua paisagem urbana.