Entre os mais de 100 mil que foram ao velório de Eduardo Campos, no Palácio das Princesas, não foram poucos os que puxaram do celular para fazer uma “selfie” na borda do caixão e, já em seguida, se exibir na internet. A “selfie”, no feminino, está relacionada ao ato de tirar fotos de si mesmo, um autorretrato.Segundo uma psicóloga entrevistada pelo jornal “O Globo”, a desesperadora necessidade de registrar presença e compartilhar com amigos é quase um egoísmo: “As pessoas esquecem que uma atitude delas pode ser mal vista por aqueles que estão em luto naquele momento”.

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Bem antes deste mundo, vasto mundo ter se tornado uma aldeia globalizada, a notícia da morte do rei George II, em 1760, demorou seis semanas para chegar a seus súditos na América colonial. Para levar as notícias de um lado do mar a outro, os jornais de Londres faziam com que as notícias da América do Norte fossem telegrafadas para os locais mais elevados do litoral e, daqueles promontórios, transcrições em papel eram levadas de bote até vapores que as transportavam à Irlanda. Dali, escaleres conduziam as cópias ao posto telegráfico mais próximo, que transmitia as notícias para Londres.

Quando o presidente Lincoln foi morto, em abril de 1885, a notícia telegrafada, também transcrita à mão numa carta e despachada numa mala postal de couro, partiu da América num vapor e foi levada ao correio assim que o barco atracou em Donegal, Irlanda, de onde saiu para ser impressa. Para espanto dos ingleses, a notícia ganhou manchete nos jornais de Londres 12 dias depois.

Em 1850, o cabo submarino já tinha sido inventado na Europa. Um cabo telegráfico fora lançado entre a Grã-Bretanha a França e o próximo passo seria ligar Nova York e Londres por fio.O governo britânico, de olho nas Américas, ofereceu-se para fazer o levantamento da rota e até fornecer navios para ajudar a assentar o cabo submarino, desde que suas mensagens oficiais tivessem prioridade sobre todas as demais.

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O pensador americano Henry Thoreau (1817/1862) ironizou o projeto. Muito à frente de seu tempo, sempre lutando contra a escravidão, pelos direitos das mulheres, em defesa do meio ambiente, contra a discriminação étnica e sexual, Thoreau dizia que dificilmente valeria a pena assentar um cabo de comunicação se a primeira notícia a chegar à América fosse que “a princesa Adelaide está com coqueluche”.

Do Código Morse ao Google, passando por Marconi, cruzamos o Atlântico e damos a volta ao mundo num átimo de segundo simplesmente num toque na câmera fotográfica. Do fio ao sem fio, tudo isso para enviar uma “selfie” aos amigos da internet.  

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“Coqueluches globais”, diria Henry Thoreau.