Coqueluches

Bem antes deste mundo, vasto mundo ter se tornado uma aldeia globalizada, a notícia da morte do rei George II, em 1760, demorou seis semanas para chegar a seus súditos na América colonial. A situação não tinha melhorado muito um século depois, quando o telégrafo elétrico já tinha sido inventado, facilitando as comunicações de um lado a outro, onde os fios podiam ser instalados em postes.

Já para levar as notícias de um lado do mar a outro, os jornais de Londres faziam com que as notícias da América do Norte fossem telegrafadas para os locais mais elevados do litoral e, daqueles promontórios, transcrições em papel eram levadas de bote até vapores que as transportavam à Irlanda. Dali, escaleres conduziam as cópias ao posto telegráfico mais próximo, que transmitia as notícias para Londres.

Assim, um dia ou uma hora de vantagem, qualquer progresso era comemorado. Quando o presidente Lincoln foi morto, em abril de 1885, a notícia telegrafada, também transcrita à mão numa carta e despachada numa mala postal de couro, partiu da América num vapor e foi levada ao correio assim que o barco atracou em Donegal, Irlanda, de onde saiu para ser impressa. Para espanto dos ingleses, a notícia ganhou manchete nos jornais de Londres 12 dias depois.

Em 1850, o cabo submarino já tinha sido inventado na Europa. Um cabo telegráfico fora lançado entre a Grã-Bretanha a França e o próximo passo seria ligar Nova York e Londres por fio.O governo britânico, de olho nas Américas, ofereceu-se para fazer o levantamento da rota e até fornecer navios para ajudar a assentar o cabo submarino, desde que suas mensagens oficiais tivessem prioridade sobre todas as demais. Os americanos debateram a questão, desconfiados, porque nem todos no Novo Mundo ansiavam por um contato mais íntimo com o Velho Mundo imperialista.

O pensador americano Henry Thoreau (1817/1862) ironizou o projeto. Muito à frente de seu tempo, sempre lutando contra a escravidão, pelos direitos das mulheres, em defesa do meio ambiente, contra a discriminação étnica e sexual, Thoreau dizia que dificilmente valeria a pena assentar um cabo de comunicação se a primeira notícia a chegar à América fosse que “a princesa Adelaide está com coqueluche”.

Do Código Morse ao Google, passando por Marconi, cruzamos o Atlântico e damos a volta ao mundo num átimo de segundo simplesmente navegando pela internet. Do fio ao sem fio, tudo isso para saber “que Tom Cruise e Katie Holmes chegaram a um acordo sobre o processo de separação e assinaram o divórcio”. 

“Coqueluches globais”, diria Henry Thoreau.