Não sem certa inveja, nós curitibanos precisamos reconhecer que o Centro de Tradições Gaúchas (CTG) é uma das grandes invenções daquele povo mais exibido que laranja de amostra. Presente em quase todos os estados, o CTG é uma embaixada da cultura gauchesca, sejam as bombachas coloradas ou tricolores. O certo é que onde tem um CTG tem uma prenda tão bem fornida de origem quanto a Gisele Bündchen, enrodilhada num macanudo mais ansioso que anão em comício.

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Não é charla (papo) de gaúcho. Num dos concursos de beleza promovidos pela Confederação Brasileira de Tradições Gaúchas (CBTG) foi eleita uma morena do Maranhão que nunca tinha posto os pés nos pagos do Rio Grande. Apesar de ter respondido acertadamente a todas as perguntas sobre a história Farroupilha, etapa obrigatória da eleição.

Para se ter uma ideia do alcance dos Centros de Tradições Gaúchas nas mais diversos rincões desse Brasil, diga-se que aqui em Curitiba a influência do sal grosso não poupa nem a colônia japonesa. Hitoshi Nakamura, japonês de nascimento e ex-secretário do Meio Ambiente de Jaime Lerner, nos domingos de folga se apetrechava de gaudério e ia dançar o vanerão nos CTGs dos Campos Gerais. Por mais que se esforçasse, Nakamura não tinha o “tchê” dos mais afinados, infelizmente, mas quando ouvia uma gaita-ponto ficava mais faceiro que guri com a primeira bombacha. De resto, os CTGs fazem parte da cultura paranaense, principalmente no sudoeste, levando na guaiaca o futebol. Em Foz do Iguaçu, pergunte pelo resultado do jogo do Atlético:

– Qual Atlético, tchê? O Clube Atlético de Carazinho ou o Grêmio Atlético de Pelotas?

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Bobagem, diz um ditado gauchesco, é espirrar na farofa.

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Assim sendo, não seria nenhuma bobagem criar também em Curitiba um Centro de Tradições Curitibanas (CTC). Do que é bom, temos tradição em copiar, e melhorar, para depois nos copiarem. O nosso CTC seria uma ampla e concentrada mostra dos nossos bens culturais. Quem sabe transformar o Centro de Criatividade do Parque São Lourenço no Centro de Tradições Curitibanas, com bares e restaurantes das várias etnias, livraria dedicada à literatura leitE quentE, palco para o nosso gaudério puxar da viola e soltar a voz.

A ideia é boa, porém inexequível. O curitibano que chegou agora, já bem aculturado, há de botar um pé atrás:

– Centro de Tradições Curitibanas? Não vai dar certo. Só se for um Centro de Contradições Curitibanas!