Copa e cozinha

A seleção do Irã não é nenhum time de celebridades, mas assim como as bandas de rock, pede tratamento especial na alimentação. Por razões religiosas, da mesma forma como a seleção de Israel seria tratada caso os judeus não fossem tão pernas de pau.

Enquanto os judeus ortodoxos só levam à mesa a comida “Kosher”, os muçulmanos exigem alimentação “Halal” (lícito em persa). Só é permitido carne de boi, frango, peixe e nada de porco, animal considerado impuro no islamismo. A carne bovina, por exemplo, requer atenção do abate. Segundo apurou o jornalista Leonardo Mendes Júnior, quatrocentos quilos de carne sagrada vão alimentar semanalmente a seleção iraniana durante a estada no Brasil para a Copa do Mundo de 2014.

“O processo para a carne ser ‘Halal’ começa no abate por meio de degola. O sangrador deve ser muçulmano e seguir todo um ritual. O animal deve estar virado para Meca (cidade sagrada do islamismo) e o sacrifício precisa ser feito em nome de Alá, com uma faca de aço que atinja as quatro principais veias. O sangue deve escorrer todo, para indicar que a carne foi purificada”, descreve o empresário Nasser Khazraji, iraniano que mora no Brasil desde os 7 anos, que envia um funcionário seu, muçulmano, para realizar o abate.

Caso esses preceitos não sejam obedecidos, não se sabe o tamanho do castigo que o funcionário encarregado da fiscalização pode sofrer. No mínimo a perda da língua, presume-se. No entanto, quando se trata de fiscalização no Brasil, tudo pode acontecer. Não tem muito tempo, me contou o diretor de um grande frigorífico de Santa Catarina que os fiscais muçulmanos enviados da Arábia tinham lá suas fraquezas com a carne. Sendo a carne fraca, normalmente fechavam os olhos no abate do frigorífico, para deixá-los bem abertos no abate em bordéis. E foi assim que os ortodoxos passaram mil e uma noites comendo gato por lebre nos Jardins de Alá.

Como o humor quase sempre é uma imitação da vida, certa vez o Jacó precisou ir até a cidade grande para tratar de seus documentos. Antes de partir, sua esposa fez uma lista de todas as pensões que serviam comida “Kosher”, pois numa família religiosa não se come qualquer alimento. Assim tratado, Jacó viajou com promessa de voltar em três dias.

Após um mês sem receber notícia do marido, Sara decidiu então mandar sua irmã Ester procurar o marido na cidade. A jovem bateu então em todas as pensões que a irmã havia listado, mas não o encontrou. Depois de alguns dias de busca, enfim o encontrou num hotel vagabundo, com um nome duvidoso: “Bordel”. E o pior: Jacó estava naquele momento estirado ao lado de uma moça, de aparência igualmente duvidosa.

– Que vergonha, Jacó! – repreende a cunhada- como um judeu pode se meter num antro como esse?

– Não se preocupe, Rachel! Aqui só venho passar a noite. Minhas refeições são feitas numa pensão “kosher”!