Ao analisar as consequências da operação Lava Jato, um bacana do alto escalão do governo só tinha uma preocupação a curto e a médio prazo: “De modo geral os esquemas devem voltar à normalidade quando baixar a poeira, com pequenas variações operacionais. O que me preocupa sobremaneira é a manutenção da minha adega. Cheguei numa fase da vida que só consigo beber vinhos dos empreiteiros”. Não há vinho melhor no mundo, dizem os enólogos da Adega Chapa Branca.

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Alguns preferem propinas em vinhos, outros com contas na Suíça ou em paraísos fiscais. A maioria com dinheiro na mala ou na cueca, mas em espécie. Do ex-deputado Aníbal Curi se dizia de tudo. Se dizia, inclusive, que antes de prestar contas de seus atos na Suprema Corte da Eternidade, ele teria perguntado a São Pedro: “Quem é que MANDAVA aqui?”.

Para quem conhecia bem o seu “modus operandi”, Aníbal não dava ponto sem nó e fazia um camelo passar pelo buraco da agulha: para abrir as portas certas no governo -qualquer governo -, ele não aceitava dinheiro nem aqui nem no exterior. Nada por escrito, com ele era no fio do bigode e na boa memória. Em troca, só não abria mão de receber favores. Enquanto os bacanas acumulavam dinheiro na conta corrente, Aníbal tinha um, “contencioso de favores”. Hoje seria uma fortuna incalculável, fora de alcance até do juiz Sérgio Moro.

E por falar em favores, a jornalista Cora Rónai conta que ela e Millôr Fernandes foram passar um fim de semana em Salvador. Ficaram hospedados num hotelzinho simpático e elegante, com meia dúzia de quartos – uma espécie de hotel boutique antes mesmo que essa expressão fosse inventada.

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Foram dias inesquecíveis, como lembra Cora. Quando foram pagar a conta, a proprietária, uma senhora muito distinta, chamou o Millôr de lado: “Olha, seu Millôr, já está tudo certo. A Construtora Odebrecht está oferecendo a cortesia”. E o Millôr, que não era o Millôr por nada: “Sinto muito, não posso aceitar. Nós viemos pela Mendes Junior!”. Sempre foi assim. Ou quase assim. A engenheira Franchette Riechbieter (mulher do ex-ministro Karlos Rischbieter), tinha uma frase na ponta da língua para receber o empreiteiro Cecílio do Rego Almeida no seu gabinete da Prefeitura de Curitiba, lá pelos idos da década de 1970: “Qual foi a irregularidade que você veio me propor hoje?”.