Nos seus bons e velhos tempos de livre atirador político, o ex-prefeito Rafael Greca tinha uma frase ferina para explicar os desvios capitalistas de muitos amigos comunistas: “O conforto acostuma!”. Com as notícias do 5.º Congresso do PT, em Salvador, tristemente marcado pelos dez anos do Mensalão, tirei da estante a biografia de Friedrich Engels, cujo título é de encher a boca do Greca: “Comunista de casaca”.
Engels foi um “filhinho de papai”. Se por um lado foi o magnata da indústria têxtil que bebia bem, gostava do luxo, de salada de lagostas e mulheres caras, do avesso foi o revolucionário político que desceu aos mais miseráveis guetos da Inglaterra para escrever com Karl Marx “O manifesto do Partido comunista”.
Amigo e provedor de Marx, o industrial alemão adorava conviver com a família do parceiro comunista. Gostava especialmente da jovem Jenny Marx, a única que conseguia arrancar de Engels seus segredos mais bem guardados num jogo de salão muito popular na época, chamado “Confissões”. O resultado do questionário só reforça o alerta que Rafael Greca fazia aos obcecados seguidores de Engels e Marx: o conforto não só acostuma, como também é contagioso.
Virtude predileta: alegria. Alegria / num homem: cuidar da própria vida / numa mulher: não por as coisas no lugar errado / Principal característica: saber de tudo pela metade / Ideia de felicidade: Chateau Margaux 1848 / Ideia de infelicidade: ir ao dentista / O vício que você desculpa: todo o tipo de excesso / O vício que você detesta: canto / Sua maior aversão: mulheres convencidas, afetadas / Ocupação favorita: caçoar das pessoas, ser alvo de caçoadas / Herói favorito: nenhum / Heroína favorita: um número grande demais para citar uma / Flor favorita: campainha / Cores favoritas: qualquer uma que não tenha anilina demais (corante de algodão) / Pratos favoritos: salada e ensopado irlandês / Máxima favorita: não ter nenhuma / Lema: Vá com calma!
O lema do comunista Friedrich Engels cai como uma luva (de pelica) nas mãos de quem empunha o poder pela primeira vez, o que é o caso dos tantos petistas aliciados pela corrupção e que não nasceram em berço de ouro: “Vá com calma! O conforto acostuma!” – diria Rafael Greca.